Uma nova tendência que surgiu na plataforma TikTok está dominando os feeds e as conversas entre jovens brasileiros, mas não sem levantar uma série de críticas e alertas. Conhecida como "síndrome da lucky girl" ou "síndrome da garota sortuda", o movimento gira em torno da crença de que afirmar mantras positivos para si mesmo pode, por si só, atrair sorte e fazer com que tudo aconteça conforme o desejo.
O que é a Síndrome da Lucky Girl e como ela se espalhou?
O conceito é aparentemente simples: indivíduos, principalmente mulheres da Geração Z, repetem para si mesmas frases como "Eu sou tão sortuda e tudo acontece do meu jeito". A ideia é que, ao internalizar essa mentalidade, a pessoa começaria a colher os frutos de uma vida mais afortunada, atraindo oportunidades e resultados positivos. O fenômeno ganhou força visual no TikTok, com vídeos mostrando rotinas e situações que seriam consequência direta dessa atitude.
No entanto, o que parece ser uma prática inofensiva de autoajuda e pensamento positivo tem sido alvo de intenso debate. Especialistas e usuários das redes sociais apontam que o movimento esconde questões mais profundas e potencialmente problemáticas.
Críticas: Da Positividade Tóxica à Questão do Privilégio
As principais críticas à síndrome da garota sortuda se dividem em duas frentes. A primeira alerta para o risco da positividade tóxica. Psicólogos destacam que a pressão para estar sempre positivo e acreditar que tudo depende apenas do pensamento pode invalidar emoções legítimas como tristeza, frustração e ansiedade. Essa negação da realidade emocional complexa pode ser prejudicial para a saúde mental.
A segunda e mais contundente crítica discute o privilégio. Muitos argumentam que a narrativa de que "basta acreditar para conseguir" ignora completamente fatores estruturais, socioeconômicos e de oportunidade que impactam a vida real das pessoas. A ideia de que a sorte é um estado mental alcançável por todos, e não uma combinação de esforço com circunstâncias favoráveis (muitas vezes herdadas), é vista como uma visão simplista e desconectada da realidade de grande parte da população.
O que dizem os especialistas em psicologia?
Profissionais da área de saúde mental têm se manifestado sobre a tendência, buscando um equilíbrio na análise. Eles reconhecem que pensamentos positivos e a visualização de objetivos podem ter benefícios, como aumentar a motivação e a confiança para tomar ações concretas. A mentalidade pode servir como um catalisador inicial.
Por outro lado, os psicólogos fazem um alerta crucial: quando essa mentalidade substitui a ação prática e a resolução de problemas, ou quando cria a expectativa irreal de que o universo simplesmente conspirará a favor sem esforço, ela se torna perigosa. Eles também observam que, embora viral entre a Geração Z, padrões similares de pensamento positivo mágico existem há décadas, desde a época dos Baby Boomers, mostrando que é um tema recorrente na cultura de autoajuda.
O consenso entre especialistas é que o caminho saudável está no meio-termo: cultivar uma atitude positiva e esperançosa é valioso, mas deve estar sempre aliado ao planejamento, ao trabalho duro e ao reconhecimento das condições objetivas da vida de cada um. Ignorar este equilíbrio pode levar não só à frustração, mas também à culpabilização indevida quando as coisas não saem como o mantra prometia.
