As forças dos Estados Unidos realizaram no sábado (20) a apreensão de um segundo navio petroleiro que transportava petróleo cru venezuelano, em uma escalada da campanha de pressão do governo Trump contra o regime de Nicolás Maduro. A embarcação, que tinha como destino a China, foi interceptada em águas internacionais a oeste da ilha de Barbados.
Detalhes da Operação e a "Frota Fantasma"
O navio apreendido é o VLCC Centuries, que carregava aproximadamente 1,8 milhão de barris de petróleo do tipo Merey. Segundo documentos internos da estatal PDVSA, vistos pela agência Reuters, a carga foi comprada pela empresa intermediária Satau Tijana Oil Trading para ser entregue a refinarias independentes chinesas.
Para tentar burlar as sanções internacionais, a embarcação operava sob a bandeira do Panamá e utilizava o nome falso "Crag". Esta prática é comum na chamada "frota fantasma" venezuelana, um conjunto de petroleiros que usam bandeiras estrangeiras e identidades falsas para ocultar a origem do petróleo. Táticas similares são empregadas por outros países sancionados, como Rússia e Irã.
O VLCC Centuries havia deixado águas venezuelanas na quarta-feira, sendo brevemente escoltado pela marinha da Venezuela, antes de ser capturado pelas autoridades norte-americanas no fim da madrugada de sábado.
Contexto de Tensão e Bloqueio Anunciado
Esta é a segunda apreensão do tipo desde o início da ampla mobilização militar dos EUA no Caribe, que inclui sobrevoos de jatos e ações contra embarcações. A primeira ocorreu em 10 de dezembro.
Na terça-feira (16), o presidente Donald Trump anunciou um bloqueio total a petroleiros sancionados que saem da Venezuela, declarando que o país está "totalmente cercado militarmente". Analistas interpretaram o anúncio como uma elevação no tom das ameaças.
Em resposta, o governo Maduro classificou as declarações de Trump como uma "ameaça grotesca" e "absolutamente irracional". Após a nova apreensão, a Venezuela condenou o ato, descrevendo-o como um "grave ato de pirataria internacional" e prometendo que não passará impune.
Interesses Geopolíticos e Impactos no Mercado
A Venezuela detém as maiores reservas comprovadas de petróleo do planeta, cerca de 303 bilhões de barris. No entanto, grande parte é extra-pesada, exigindo tecnologia e investimentos que são limitados pelas sanções e pela infraestrutura precária do país.
Há um claro interesse econômico dos EUA, pois o petróleo pesado venezuelano é considerado bem adequado para as refinarias da Costa do Golfo. A estratégia de Trump atinge dois objetivos: pressionar a principal fonte de receita do governo Maduro e, ao mesmo tempo, buscar favorecer a indústria norte-americana.
A China é o maior comprador do crude venezuelano, que representa cerca de 4% de suas importações. Enquanto o mercado global está bem abastecido no momento, analistas alertam que a perda sustentada de quase um milhão de barris por dia pode pressionar os preços do petróleo para cima.
O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir na próxima terça-feira para discutir a escalada de tensões entre os dois países. Enquanto isso, a Rússia, aliada de Maduro, já advertiu que as tensões na Venezuela podem ter "consequências imprevisíveis para o Ocidente".