O controverso agitador de extrema-direita Nick Fuentes tem tentado se posicionar como sucessor de Charlie Kirk, uma das vozes conservadoras mais conhecidas entre os jovens americanos. No entanto, sua estratégia de "dizer o indizível" tem gerado mais divisão do que união, rachando o espectro da direita e provocando reações de figuras importantes do Partido Republicano.
O método da polêmica e as declarações extremistas
Nick Fuentes, de 27 anos, construiu sua notoriedade através de declarações que beiram o inaceitável. Ele já fez elogios a Adolf Hitler, expressou repulsa por mulheres – afirmando nunca ter tido relações sexuais com uma – e atacou figuras públicas com insultos raciais e pessoais. Sua mais recente investida foi contra o vice-presidente JD Vance, a quem chamou de "traidor da raça" e direcionou ofensas à sua esposa, Usha Vance, que é de origem indiana.
O paradoxo de sua retórica supremacista branca é evidente. Fuentes é filho de mãe de origem italiana e pai metade mexicano, uma combinação que, segundo os próprios padrões racistas que ele propaga, não o qualificaria como "puro" para os grupos que idolatram apenas anglo-saxões, germânicos e nórdicos.
Autodenominado nacionalista cristão, ele frequentemente usa símbolos religiosos, mas sua mensagem é descaradamente anticristã. Em suas próprias palavras, ele defende que "os judeus controlam a sociedade, as mulheres deveriam calar o bico, os negros na maioria deveriam ser presos". Para ele, Hitler é "cool".
O crescimento dos Groypers e a reação da direita tradicional
A influência de Fuentes parece ressoar entre uma parcela específica da base republicana. Analistas estimam que entre 30% a 40% dos homens republicanos com menos de 30 anos se identificam com os "Groypers", um movimento online liderado por Fuentes, cujo nome deriva de um meme de um sapo.
Esse crescimento não passou despercebido e tem causado mal-estar entre as vozes mais estabelecidas da direita. Ben Shapiro, um influenciador conservador de grande alcance e judeu praticante, atacou publicamente o antissemitismo explícito de Fuentes. Ele também criticou o apresentador Tucker Carlson por conceder uma longa entrevista ao agitador, a quem descreveu como "um pedaço de dejeto que faz apologia de Hitler".
A tensão escalou para um confronto direto com o poder estabelecido quando o vice-presidente JD Vance reagiu às ofensas contra sua família. Vance declarou publicamente que quem ataca sua esposa "pode ir para um lugar não publicável", incluindo explicitamente Nick Fuentes em sua reprimenda.
Um presente para os adversários e um desafio para a sociedade
Para os críticos da direita, a ascensão de uma figura como Nick Fuentes é um presente. Ela permite que associem todo o espectro conservador – incluindo alas mais moderadas focadas em economia e comportamento – com as ideias mais extremas e repugnantes. A "guerra civil" exposta, especialmente após Fuentes ironizar Erika Kirk, a viúva de Charlie Kirk, é vista como uma fissura que pode prejudicar futuras candidaturas presidenciais republicanas.
O fenômeno, no entanto, vai além da disputa política partidária. O sucesso de Fuentes é um desafio para toda a sociedade. Ele explora um caldo de cultura formado por homens jovens brancos que se sentem marginalizados e culpabilizados, com dificuldades para estabelecer relacionamentos saudáveis e que encontram refúgio e validação em comunidades online de ódio.
Cada episódio de seu programa "América em Primeiro Lugar com Nicholas Fuentes" na plataforma Rumble atrai centenas de milhares de visualizações. Jared Holt, um estudioso do movimento Groypers, disse ao The Telegraph que, embora a base de fãs de Fuentes possa não estar crescendo rapidamente, ele tem sido bem-sucedido em chamar a atenção de tomadores de decisão em Washington, que parecem temerosos de atrair a ira de seus seguidores.
O grande erro de cálculo que legitimou Fuentes, segundo analistas, foi quando Donald Trump o recebeu, junto com Kanye West, para um jantar em Mar-a-Lago durante a campanha presidencial. O episódio deu ao agitador uma aura de aceitação que ele agora explora ao máximo.
A batalha agora é para definir se a direita americana será representada por figuras como o original Charlie Kirk, com um conservadorismo mais tradicional, ou se abraçará as "pulsões primais" e a retórica profundamente racista de Nick Fuentes. A postura firme de JD Vance pode ser o primeiro passo para isolar o extremismo, mas muitos outros precisarão seguir o mesmo caminho para que os princípios conservadores não sejam desmoralizados por dentro.