Governo vê janeiro como última chance para acordo UE-Mercosul
Última chance para acordo UE-Mercosul é em janeiro

O governo brasileiro demonstra ceticismo sobre a possibilidade de o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia ser assinado em janeiro, conforme prometido pelos líderes europeus. A avaliação em Brasília é de que, se o prazo não for cumprido, o bloco sul-americano poderá finalmente "jogar a toalha" sobre as negociações, que se arrastam há 26 anos.

Adiamento e pressão europeia

A assinatura do histórico acordo de livre comércio estava marcada para o dia 20 de dezembro, durante uma cúpula em Foz do Iguaçu. No entanto, a apenas dois dias do evento, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou o adiamento.

A decisão reflete a forte pressão interna dentro da UE, especialmente de países como a França, cujos agricultores são grandes opositores do pacto. A França conseguiu, às vésperas da decisão final no Conselho Europeu, o apoio crucial da Itália para bloquear a aprovação imediata.

Promessa para janeiro e ceticismo brasileiro

Em uma carta, Von der Leyen e o presidente do Conselho Europeu, António Costa, afirmaram seu "firme compromisso" em assinar o Acordo de Parceria e o Acordo Provisório de Comércio no início de janeiro, em uma data a ser combinada.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que detém o voto decisivo para travar o texto, disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que está confiante em poder apoiar o acordo se tiver mais tempo para conseguir apoio doméstico.

Entretanto, um alto funcionário do governo brasileiro avalia que a janela de oportunidade é curta. Caso o prazo de janeiro não seja respeitado, até mesmo os países do Mercosul mais favoráveis à abertura de mercado, como Argentina e Paraguai, podem desistir definitivamente.

Ônus do fracasso e nova estratégia comercial

Na visão do Planalto, o ônus por um eventual fracasso do acordo será integralmente da União Europeia. O governo brasileiro argumenta que já aceitou as salvaguardas pedidas pelos europeus para proteger seus produtos e ainda adiou a assinatura a pedido deles, do dia 2 para o 20 de dezembro.

Com o recuo europeu, a estratégia de diversificação de mercados, reforçada após as tarifas impostas pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump, ganha ainda mais força. Um integrante do governo afirmou que o Mercosul se voltará ainda mais para a Ásia.

O presidente Lula já tem duas viagens presidenciais agendadas para fevereiro, com destino à Índia e à Coreia do Sul, para anunciar novos acordos comerciais. Durante a Cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu, Lula citou negociações em curso com países como Japão e Vietnã e pediu que a UE mostre "coragem" para concluir o acordo.

A situação política frágil em vários países europeus, com a ascensão de partidos nacionalistas, é vista como um obstáculo difícil de superar no curto prazo estabelecido. O governo brasileiro aguarda, mas não deposita grandes esperanças no cumprimento da promessa europeia para janeiro.