Irã promete diálogo após protestos de comerciantes contra inflação de 42,2%
Irã promete diálogo após protestos por inflação de 42,2%

O governo do Irã anunciou, nesta terça-feira, 30 de dezembro de 2025, a intenção de abrir um canal de diálogo com comerciantes que promovem uma onda de protestos desde o fim de semana. A mobilização é uma resposta à forte desvalorização da moeda nacional, o rial, e ao aumento da inflação, que atingiu a marca de 42,2% em comparação com dezembro de 2024.

Governo reconhece protestos e sinaliza abertura

Em declaração à imprensa estatal, a porta-voz governamental Fatemeh Mohajerani afirmou que Teerã reconheceu "oficialmente os protestos". Ela acrescentou que as autoridades ouviram as vozes dos manifestantes e compreendem que os atos têm origem na "pressão sobre os meios de subsistência das pessoas".

Na véspera, o presidente Masoud Pezeshkian já havia usado a rede social X (antigo Twitter) para sinalizar disposição em escutar a população. Em sua publicação, ele descreveu o bem-estar dos iranianos como sua "preocupação diária" e mencionou "ações fundamentais na agenda para reformar o sistema monetário e bancário".

"Incumbi o Ministro do Interior de ouvir as reivindicações legítimas dos manifestantes por meio do diálogo com seus representantes", escreveu Pezeshkian, prometendo que o governo agiria com todas as suas forças para resolver os problemas.

Crise econômica e protestos nas ruas de Teerã

Os protestos começaram no domingo, 28 de dezembro, e se estenderam pela segunda-feira, 29, em várias áreas da capital, Teerã. Comerciantes fecharam as portas de seus estabelecimentos em um ato de protesto silencioso, mas significativo.

Segundo a emissora Al Jazeera, os manifestantes foram recebidos por forças de segurança antimotim totalmente equipadas, que lançaram gás lacrimogêneo para dispersar as aglomerações. Apesar da repressão, os comerciantes continuaram a convocar mais pessoas para aderirem ao movimento.

A crise é impulsionada pela desvalorização progressiva do rial, que faz parte de uma crise econômica mais ampla, agravada por sanções internacionais. Na segunda-feira, a moeda atingiu um patamar histórico negativo, chegando a cerca de 1.390.000 riais por dólar americano.

Contexto histórico e impactos no comércio

Esta não é a primeira vez que o Irã enfrenta protestos em massa motivados pela economia. Em 2022, a população foi às ruas contra o aumento dos preços de produtos básicos. Os meios de comunicação estatais insistem que a atual greve está restrita às condições econômicas e não tem relação com o regime teocrático.

Diante da instabilidade cambial, alguns lojistas, especialmente vendedores de eletrônicos que dependem de importações, adotaram uma estratégia de sobrevivência. Eles passaram a vender produtos online e suspenderam temporariamente as vendas presenciais. O objetivo é ajustar os preços conforme a volatilidade da taxa de câmbio, tentando se proteger das perdas.

O cenário atual contrasta com os protestos de 2023, motivados pela morte da jovem Mahsa Amini sob custódia da polícia da moralidade. Desta vez, o foco imediato das ruas é claramente a deterioração do poder de compra e a crise monetária que assola o país.