Japão: nascimentos em 2025 devem bater recorde histórico de queda
Queda histórica de nascimentos no Japão em 2025

O Japão se prepara para registrar, em 2025, o menor número de nascimentos de sua história, um marco sombrio que aprofunda uma crise demográfica com impactos econômicos cada vez mais severos. As projeções mais recentes indicam que o total de bebês nascidos neste ano deve ficar abaixo de 670 mil, um patamar que sequer as estimativas oficiais mais pessimistas do governo esperavam alcançar tão cedo.

Projeções frustradas e políticas em xeque

Os dados preliminares dos primeiros dez meses de 2025 sugerem uma queda de aproximadamente 3% em relação a 2024, configurando o décimo ano consecutivo de recorde negativo. O número projetado para 2025 é inferior a 670 mil nascimentos, um marco que, segundo as projeções centrais do Instituto Nacional de Pesquisa sobre População e Seguridade Social (atualizadas em 2023), só era esperado para 2041. Isso significa que o país atingiu esse patamar preocupante 16 anos antes do previsto nos cenários usados para o planejamento fiscal e econômico.

Essa frustração das estimativas representa um revés significativo para anos de políticas públicas destinadas a incentivar casamentos e aumentar a taxa de natalidade. Em 2024, o governo japonês destinou cerca de US$ 23 bilhões a um plano de três anos para tentar reverter a tendência, mas os números continuam em declínio acentuado. A situação é agravada pelo fato de que filhos fora do casamento ainda são raros no país, e o número anual de uniões matrimoniais caiu para menos de 500 mil, cerca de metade do pico registrado em 1972.

Impacto econômico imediato e pressão estrutural

Do ponto de vista econômico, as consequências da queda histórica de nascimentos são amplas e profundas. Com menos jovens entrando no mercado de trabalho e uma população idosa em expansão, dependente de aposentadorias e serviços de saúde, cresce exponencialmente a pressão sobre as contas públicas e o sistema previdenciário. Em 2024, a população japonesa já havia encolhido em mais de 900 mil pessoas, uma combinação de menos nascimentos e mais mortes.

Analistas do mercado financeiro alertam que reconhecer oficialmente que o Japão está seguindo os cenários demográficos mais pessimistas exigiria uma revisão urgente das projeções econômicas. Isso implicaria admitir custos inevitáveis para o futuro, como aumento de impostos e redução de benefícios sociais, para equilibrar um sistema pressionado pela pirâmide etária invertida.

Debates sensíveis e o futuro incerto

A crise ocorre em meio a um debate nacional sensível sobre imigração. Enquanto muitos economistas defendem a ampliação da entrada de trabalhadores estrangeiros como uma forma crucial de mitigar a escassez aguda de mão de obra, cresce a resistência política e social a essa alternativa. Esse sentimento se reflete no avanço recente de partidos populistas contrários à abertura das fronteiras.

Diante da gravidade da situação, a primeira-ministra Sanae Takaichi instalou, em novembro, um grupo especial para tratar da questão populacional, classificando-a como o "maior problema" do país. Paralelamente, demógrafos acompanham com cautela o ano de 2026, que será o ano do "cavalo de fogo" no calendário astrológico japonês, historicamente associado a quedas bruscas na natalidade, como a retração de 25% observada em 1966. Especialistas acreditam, porém, que o efeito supersticioso hoje tende a ser limitado, dado o distanciamento das novas gerações em relação a essas crenças.

O quadro geral, no entanto, reforça um diagnóstico preocupante e irreversível: a crise demográfica japonesa deixou de ser um risco futuro distante e se transformou em um freio concreto e atual ao crescimento econômico. Seus efeitos estruturais sobre a produtividade, o consumo interno e a sustentabilidade fiscal do país devem moldar os desafios do Japão por muitas décadas.