O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, fez uma declaração polêmica nesta terça-feira (23) ao afirmar que as forças militares de seu país nunca deixarão completamente a Faixa de Gaza. A fala, que gerou reações imediatas, ocorreu no assentamento de Beit El, na Cisjordânia, próximo à sede da Autoridade Palestina em Ramallah.
Declaração polêmica e retratação
Durante seu discurso, Katz foi enfático ao dizer: "Estamos localizados no interior de Gaza e nunca deixaremos Gaza completamente. Nunca haverá tal coisa". Ele justificou a necessidade de uma presença permanente citando a proteção de cidadãos israelenses e mencionou também a importância de estar no Líbano e na Síria.
O ministro chegou a mencionar planos de estabelecer unidades chamadas Nahal, que historicamente foram importantes na criação de comunidades em Israel. Ele anunciou a construção de 1.200 unidades habitacionais em Beit El e sugeriu que, "quando chegar a hora", unidades Nahal seriam construídas no norte de Gaza.
No entanto, após veículos de comunicação israelenses noticiarem a declaração como um plano de repovoar o território, Katz divulgou um comunicado oficial para corrigir a informação. "O governo não tem intenção de estabelecer assentamentos na Faixa de Gaza", afirmou, esclarecendo que a referência ao Nahal foi feita apenas em um contexto de segurança.
Reações e plano de paz
Em resposta às declarações iniciais, o porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, acusou Israel de violar o acordo de cessar-fogo. Qassem afirmou que o anúncio vai contra o plano de paz proposto pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, assinado por ambas as partes em outubro deste ano.
O plano mencionado prevê:
- A retirada gradual e completa dos militares israelenses de Gaza.
- O não restabelecimento de assentamentos civis israelenses no território.
- Uma "presença de perímetro de segurança israelense" até que Gaza esteja protegida de ameaças terroristas.
Contexto político e histórico
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem descartado repetidamente a possibilidade de restabelecer assentamentos em Gaza durante os dois anos de guerra contra o Hamas. Entretanto, membros ultranacionalistas de sua coalizão pressionam pela reocupação do território.
Paralelamente, a construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia, área reivindicada pelos palestinos para um Estado futuro, acelerou sob o governo de Netanyahu. Essa política é considerada ilegal pela maioria da comunidade internacional, enquanto Israel alega laços históricos e bíblicos com a região.
Com eleições previstas para o ano que vem, os colonos dos assentamentos representam uma parte significativa da base eleitoral do partido Likud, ao qual pertencem tanto Katz quanto Netanyahu.
Antecedentes da ameaça de ocupação
Esta não é a primeira vez que Israel Katz menciona uma ocupação permanente em Gaza. Em março deste ano, o ministro ameaçou anexar partes do território caso o Hamas não libertasse os reféns ainda em seu poder.
"Quanto mais o Hamas se recusar a libertar os reféns, mais território perderá, que será anexado por Israel", declarou Katz na ocasião, mencionando explicitamente uma "ocupação permanente" de algumas áreas dentro de Gaza.
Em agosto, o gabinete de segurança de Israel aprovou um plano para que as Forças Armadas assumissem o controle da Cidade de Gaza, o principal centro urbano do território. Duas semanas depois, o Exército anunciou o avanço de suas tropas para a tomada da cidade e convocou cerca de 60 mil reservistas como parte da operação.
A situação permanece tensa, com declarações oficiais frequentemente sendo ajustadas após repercussão internacional, refletindo a complexidade e a sensibilidade do conflito prolongado na região.