Em um cenário de taxa Selic fixada em 15% ao ano, seu maior patamar em duas décadas, o setor da construção civil enfrenta ventos contrários. No entanto, para a liderança de uma das principais incorporadoras do Nordeste, um fator se mostra mais decisivo do que o custo do crédito: a confiança no crescimento do país.
Confiança na economia como motor principal
Em entrevista exclusiva ao Radar Econômico, Diego Villar, CEO da Moura Dubeux, apresentou uma visão que contraria a percepção imediata sobre os impactos da política monetária. Para o executivo, embora os juros estabeleçam um enquadramento importante para a renda destinada a financiamentos, o elemento crucial é a perspectiva positiva dos consumidores.
“Os juros são importantes, porque eles dão um enquadramento de renda para financiamentos, mas o mais importante é a confiança das pessoas na economia”, afirmou Villar. Esta confiança, alimentada por crescimento econômico e baixo desemprego, seria o verdadeiro propulsor da demanda por imóveis, mesmo em um ciclo de aperto monetário.
Lições do passado e a resiliência da demanda
O empresário buscou no histórico recente do mercado um paralelo para sustentar sua tese. Ele lembrou que o período entre 2006 e 2012 foi marcado por um volume expressivo de vendas de apartamentos, tanto no Nordeste quanto na média nacional, mesmo com juros também em patamares de dois dígitos.
A semelhança entre aquela época e o momento atual, segundo sua análise, está na conjuntura macroeconômica favorável. “É óbvio que se os juros estivessem menores, teríamos uma quantidade maior de famílias comprando, mas o brasileiro toma empréstimo independentemente do valor dos juros, desde que seja condizente com a sua renda”, concluiu o pernambucano.
A pandemia como contraprova
Villar utilizou o exemplo recente da pandemia para reforçar seu argumento. Naquele período, houve uma queda na demanda por imóveis apesar das taxas de juros historicamente baixas. O motivo, segundo ele, foi a insegurança generalizada sobre o futuro e a renda, demonstrando que o fator psicológico e a confiança podem se sobrepor até mesmo a um crédito barato.
Esta reflexão destaca que o comportamento do consumidor no mercado imobiliário é complexo e multifatorial. Enquanto a taxa de juros é uma variável de custo inegável, ela não é absoluta. A percepção de estabilidade, emprego e crescimento econômico sustentável atua como um contrapeso poderoso, capaz de manter aquece o setor mesmo em condições financeiras mais desafiadoras.
A análise do CEO da Moura Dubeux, divulgada em 26 de dezembro de 2025, oferece um olhar estratégico para investidores e para o próprio setor, sugerindo que o foco nas condições gerais da economia pode ser mais revelador do que a observação isolada da taxa básica de juros.