Ponte da Integração é inaugurada por Lula no Paraná, mas cerimônia separada com Paraguai gera ruídos
Lula inaugura Ponte da Integração no Paraná

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou, na sexta-feira (19), a Ponte da Integração Jaime Lerner, uma nova ligação viária entre Foz do Iguaçu, no Brasil, e Presidente Franco, no Paraguai. No entanto, a cerimônia ocorreu sem a presença do presidente paraguaio, Santiago Peña, gerando uma situação atípica que especialistas avaliam como um sinal de ruídos diplomáticos entre os dois países.

Cerimônias separadas e justificativas

Um dia após o evento liderado por Lula, o governo do Paraguai realizou sua própria cerimônia de inauguração no sábado (20), do outro lado da fronteira, em Presidente Franco. Durante seu discurso em solo brasileiro, Lula explicou a ausência de Peña, atribuindo-a a um problema familiar do presidente paraguaio em Assunção.

O presidente brasileiro afirmou que a decisão por eventos separados foi uma solução prática, já que ele próprio não poderia estar disponível no sábado devido aos compromissos da Cúpula do Mercosul e à necessidade de retornar a Brasília. "Então eu inauguro o lado brasileiro, ele inaugura o lado paraguaio, e ganha o Brasil e ganha o Paraguai", declarou Lula.

Impacto político no Mercosul

O episódio ocorreu às vésperas da 67ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, realizada no sábado (20), também em Foz do Iguaçu, que marcou o encerramento da presidência temporária do Brasil no bloco. Para o professor Aníbal Orué Pozzo, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), a ausência de Peña tem peso político e simbólico.

"O Paraguai está com uma política externa muito fraca e indecidida. A não presença do Santiago Peña, como presidente do Paraguai, enfraquece e reorienta as relações do Paraguai para outras áreas e não para o Mercosul", analisa Pozzo. Ele acrescenta que a situação também enfraquece o próprio bloco, que funciona baseado no consenso entre seus membros.

Detalhes da nova ponte e liberação do tráfego

A Ponte da Integração Jaime Lerner é a segunda conexão viária entre os dois países na região, mais de 60 anos após a inauguração da histórica Ponte da Amizade. A estrutura, concluída desde 2022, permanecia inoperante devido à falta de infraestrutura complementar, como aduanas, acessos e sistemas de fiscalização.

A liberação do tráfego pela nova via será gradual, conforme cronograma da Receita Federal:

  • A partir da noite de sábado (20): Apenas caminhões vazios, entre 22h e 5h.
  • A partir de 18 de janeiro: Ônibus de turismo fretados, das 19h às 7h.

Ainda não há previsão para a liberação de carros e motocicletas. A expectativa das autoridades é que a nova ponte alivie o intenso fluxo de caminhões na Ponte da Amizade e no centro de Foz do Iguaçu.

Falha técnica e expectativas de desenvolvimento

A cerimônia de inauguração brasileira foi interrompida por um problema técnico no gerador de energia do palco. Irritado com a falha, o presidente Lula decidiu descer para cumprimentar o público pessoalmente. No dia seguinte, durante a abertura da Cúpula do Mercosul, ele fez um comentário irônico sobre o ocorrido: "Ontem faltou energia no meu discurso, espero que não falte energia no discurso hoje".

Para Lula e para o ministro dos Transportes, Renan Filho, a nova ligação tem impacto direto no desenvolvimento regional. Lula destacou o papel da ponte na circulação de pessoas e no comércio bilateral: "Nessa ponte vai transitar o povo paraguaio para o Brasil e o povo brasileiro para o Paraguai, para trabalhar, vender e comprar. O que interessa é fazer com que as duas economias cresçam".

O Mercosul, fundado em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, com a Bolívia tornando-se Estado Parte em 2024, continua sendo o principal bloco econômico da América do Sul. Dados da UNCTAD mostram que o bloco atraiu 42,1% dos investimentos estrangeiros direitos na América Latina em 2024, com o Brasil respondendo por mais de 85% desse montante.