Adolescentes atletas denunciam racismo e violência de seguranças no Shopping Recife
Atletas adolescentes denunciam racismo no Shopping Recife

Dois adolescentes atletas, filiados à Federação Pernambucana de Futebol, foram vítimas de uma abordagem truculenta e relataram ter sofrido racismo por parte de seguranças do Shopping Recife, localizado no bairro de Boa Viagem, Zona Sul da capital pernambucana. O caso, ocorrido na segunda-feira (22), está sendo investigado pela Polícia Civil.

Corrida para recuperar compras de Natal esquecidas

Os jovens, de 13 e 14 anos, contaram que haviam saído do shopping quando perceberam ter esquecido uma sacola com roupas de Natal. Com medo de perder as compras, voltaram correndo para dentro do estabelecimento. No desespero, deixaram suas sandálias do lado de fora e entraram descalços.

"A gente soltou a sandália e correu para dentro do shopping", relatou um dos adolescentes. Eles seguiram para a última loja que haviam visitado, uma sorveteria, na tentativa de encontrar os itens perdidos.

Abordagem violenta e acusações infundadas

Foi nesse momento que foram interceptados por um segurança. Segundo os atletas, o agente agiu com violência física e verbal desde o primeiro contato. "Já chegou o segurança, já dando uma tapa na gente e botando a gente para baixo. 'Perdeu os dois, cadê os pertences que vocês roubaram?'", descreveu um dos garotos.

Os adolescentes afirmam que foram empurrados para fora do shopping, onde outros dois seguranças em motos os aguardavam. Eles disseram ter sido repetidamente acusados de roubo e não ter tido oportunidade de explicar a situação. "Estou com medo de voltar ao shopping, que eles podem 'gravar' nossa cara e podem fazer alguma coisa com a gente lá dentro", expressou um dos jovens, revelando o trauma causado.

Mães buscam justiça e temem pela saúde mental dos filhos

A mãe de um dos adolescentes, que os aguardava do lado de fora, soube do ocorrido quando os filhos retornaram perturbados. Ela retornou ao shopping com os jovens para tentar localizar a sacola perdida, inclusive solicitando imagens de câmeras de segurança, mas não obteve sucesso.

A outra mãe, identificada como Lilian, ficou indignada ao saber que um homem bateu em seu filho. "Eu nunca bati no meu filho para vir um homem e bater nele [...] Eu quero justiça, eu quero que eles paguem o que fizeram", declarou. Ambas as famílias temem pelo impacto psicológico do episódio nos sonhadores adolescentes, que são dedicados ao futebol e nunca haviam passado por situação semelhante.

Versão do Shopping Recife e andamento do caso

Em nota, o Shopping Recife lamentou o ocorrido e apresentou uma versão diferente. Segundo o estabelecimento, a abordagem teve "caráter preventivo", motivada pela circulação de adolescentes descalços e desacompanhados, o que poderia gerar riscos de acidente em áreas com escadas rolantes e maquinários.

A administração afirmou que a equipe de segurança apenas orientou os jovens sobre a obrigatoriedade do uso de calçados, após o que eles retornaram ao shopping e continuaram a visitação tranquilamente. O shopping também reforçou que "não compactua com qualquer atitude discriminatória".

A defesa dos adolescentes, liderada pela advogada Mirelly da Silva, já registrou um Boletim de Ocorrência e notificou extrajudicialmente o shopping, solicitando as imagens das câmeras de segurança do local da abordagem e os nomes dos seguranças envolvidos. O shopping informou que as imagens serão encaminhadas diretamente à delegacia.

Os adolescentes, que possuem medalhas em campeonatos de futebol, esperam que a situação seja resolvida, mas sabem que as marcas do episódio podem ser duradouras. "Isso não é um negócio que vai sair da nossa mente, a gente vai levar para o resto da vida", concluiu um dos atletas.