IPCA-15 de dezembro reforça corte de juros em março, dizem analistas
Inflação de dezembro aponta para corte de juros em março

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, registrou uma alta de 0,25% em dezembro de 2025. Os dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na terça-feira, 23 de dezembro, estão alinhados com as projeções do mercado, mas trouxeram nuances que, segundo analistas, reforçam a tese de manutenção da taxa básica de juros (Selic) no patamar atual a curto prazo, com o início de um ciclo de cortes a partir de março de 2026.

Inflação de serviços preocupa e sinaliza cautela do BC

Para Mariana Rodrigues, economista da SulAmérica Investimentos, o resultado ficou dentro do esperado, mas o detalhamento dos números não foi positivo para uma redução mais agressiva dos juros. Os serviços subjacentes apresentaram alta acima do esperado, indicando uma possível reaceleração do setor no final do ano.

“Isso reforça nosso cenário base de expectativa de reaceleração dos serviços neste final de ano, ainda que a inflação cheia fique abaixo da banda superior da meta”, afirmou Rodrigues. Diante desse quadro, a economista projeta um cenário menos favorável para cortes intensos da Selic, prevendo uma taxa terminal de 13% ao ano em 2026.

Ela espera quatro reduções de 0,5 ponto percentual a partir de março, seguidas por uma pausa a partir da reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom), reflexo da maior incerteza associada ao período eleitoral. “Para 2027, projetamos a Selic em 11,25%, cenário que dependerá de forma crucial das diretrizes de política econômica a serem anunciadas pelo governo eleito em 2026”, argumentou.

Desinflação lenta exige postura restritiva, avaliam especialistas

André Matos, CEO da MA7 Negócios, concorda que os dados da inflação de serviços validam a condução cautelosa adotada pelo Banco Central. Para ele, o processo de desinflação no Brasil segue lento e demanda a manutenção de uma postura monetária restritiva por mais tempo.

“A pressão no setor de serviços reflete um mercado de trabalho ainda relativamente firme, enquanto núcleos de inflação mostram resistência à queda”, afirmou Matos. “Esses fatores sugerem que a inflação não está totalmente disseminada para baixo e que o combate exige paciência, especialmente em um ambiente de incerteza fiscal e volatilidade externa”.

Essa visão sustenta a estratégia do BC de agir com prudência nos próximos meses, evitando movimentos precipitados que possam desancorar as expectativas de inflação.

Cenário permite início dos cortes no primeiro trimestre

Por outro lado, André Valério, economista sênior do Inter, vê no resultado de dezembro a consolidação do processo de desinflação. Ele espera que o IPCA completo do mês venha ligeiramente melhor e projeta um primeiro trimestre de 2026 com inflação mais fraca, especialmente na comparação com o mesmo período de 2025.

“Isso abre espaço para o início dos cortes na Selic no 1° trimestre de 2026. Ainda vemos como provável o início em janeiro, mas dada a cautela do Copom, não descartamos que o BC opte por retardar o início para a reunião de março”, disse Valério. O Inter prevê que a Selic deve encerrar 2026 em 12% ao ano.

De forma geral, os dados da prévia da inflação sugerem resiliência da atividade econômica e fortalecem a tese de que o primeiro corte de juros não ocorrerá em janeiro. O consenso do mercado, no entanto, segue apontando para reduções ao longo de 2026, com a taxa básica terminando o ano em uma faixa entre 12% e 13% ao ano.