Uma análise detalhada do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta sexta-feira (19), revela a forte concentração da produção de riquezas no país. De acordo com a publicação PIB dos Municípios 2022-2023, apenas vinte e cinco municípios foram responsáveis por mais de um terço de toda a economia nacional no ano passado.
As capitais e a concentração histórica
O estudo, realizado em parceria com órgãos estaduais de estatística e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), mostra que as três primeiras posições do ranking se mantêm inalteradas desde 2002: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. No entanto, o analista do IBGE Luiz Antonio do Nascimento de Sá destaca que essas cidades vêm perdendo participação no PIB nacional de forma gradual ao longo dos anos.
Em 2023, as capitais, incluindo o Distrito Federal, representaram 28,3% do PIB brasileiro, enquanto os municípios que não são capitais responderam por 71,7%. O bom desempenho do setor de serviços impulsionou o aumento da participação de algumas capitais. São Paulo teve o maior ganho (0,4 ponto percentual), alcançando 9,7% do PIB nacional, seguida por Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro, cada uma com aumento de 0,1 ponto percentual.
Quem ganhou, quem perdeu e o peso do petróleo
A pesquisa aponta que cem municípios concentram impressionantes 52,9% do PIB do Brasil. O ranking das 25 maiores economias municipais inclui 11 capitais, nove cidades paulistas, quatro fluminenses e uma mineira.
Por outro lado, o estudo identificou os locais que perderam participação. Das 30 cidades que mais recuaram, sete tiveram perdas ligadas à extração de petróleo. Os cinco primeiros dessa lista são Maricá, Niterói, Saquarema, Ilhabela e Campos. Nove municípios com atividade principal na indústria de transformação também registraram queda.
Um dado curioso destacado pelo analista do IBGE é que as seis cidades com maior PIB per capita em 2023 estão vinculadas à extração e refino de petróleo. "É curioso observar que os municípios no topo dessa lista estão ligados ao petróleo mesmo num contexto desfavorável a essa commodity. Mas alguns campos de petróleo entraram em produção. Embora nacionalmente essa atividade extrativa tenha perdido participação, alguns campos começaram a operação em 2023 beneficiando algumas cidades", explicou Nascimento de Sá.
Os extremos da riqueza municipal por habitante
O levantamento traça um retrato das desigualdades regionais. Saquarema, no Rio de Janeiro, liderou o PIB per capita em 2023, com a marca de R$ 722,4 mil por habitante. Entre as capitais, o maior valor foi o de Brasília, com R$ 129,8 mil, um valor 2,41 vezes maior que a média nacional de R$ 53,9 mil.
Na outra ponta, o município com o menor PIB per capita do país foi Manari, em Pernambuco, com apenas R$ 7.201,70 por habitante. A pobreza extrema também se concentra regionalmente: quatro dos cinco menores PIBs per capita estavam no Maranhão – Nina Rodrigues, Matões do Norte, Cajapió e São João Batista.
Os dados reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas para a desconcentração econômica e o desenvolvimento regional equilibrado, um desafio histórico para o Brasil.