Bicudos Dois: Dupla retorna após 21 anos com repertório primoroso de samba
Bicudos Dois: Dupla retorna após 21 anos com samba

Um reencontro musical que vale a espera de mais de duas décadas. Alfredo Del-Penho e Pedro Paulo Malta se juntam novamente para presentear os amantes do bom samba com o álbum "Bicudos Dois", lançado pela Biscoito Fino. A obra chega exatamente vinte e um anos após o projeto anterior da dupla, "Dois Bicudos", e tem como missão reacender a chama das grandes duplas vocais que marcaram a história da música brasileira.

Uma Homenagem às Grandes Duplas do Passado

O projeto dos dois cantores solo é uma viagem no tempo e um resgate afetivo. Eles buscam inspiração nos clássicos pares que definiram uma era, como Francisco Alves e Mário Reis, Joel e Gaúcho, Ciro Monteiro e Dilermando Pinheiro, e Lúcio Alves e Dick Farney. Diferente das duplas sertanejas atuais, que muitas vezes uniformizam o estilo vocal, o trabalho de Del-Penho e Malta valoriza a individualidade de cada voz, preservando suas características únicas dentro da harmonia, uma tradição cara ao samba.

Repertório Impecável e Destaques do Álbum

"Bicudos Dois" é, acima de tudo, uma celebração do cancioneiro nacional. A seleção de músicas é primorosa e conta com arranjos cuidadosos que misturam instrumentos tradicionais e sopros. O álbum foi gravado e mixado por Lucas Ariel, com co-produção de Diego do Valle, e tem direção musical de Paulo Aragão.

Entre as faixas que se destacam, estão:

  • "Desafio do Malandro" (Chico Buarque): Um samba maneiro, realçado pelo som grave do clarone de Rui Alvim em diálogo com os violões de oito cordas e o tenor.
  • "Doralice" (Dorival Caymmi): A dupla se apresenta a capella, com o sutil acompanhamento de um tamborim, pura essência vocal.
  • "Seja Breve" e "É Preciso Discutir" (Noel Rosa): Dois clássicos do Poeta da Vila recebem tratamentos distintos. O primeiro, com clarone e chapéu de palha, é arrepiante. O segundo ganha uma roupagem delicada com arranjo de sopros.
  • "Reserva de Domínio" (Mauro Duarte/Paulo César Pinheiro): O clima é de samba em tom menor, conduzido pelo clarinete e pelo violão de sete cordas de Maurício Carrilho.
  • "Prece do Jangadeiro" (Pedro Amorim): Abertura com acordeom de Kiko Horta e acompanhamento de violão de oito cordas, com solos vocais poderosos.
  • "O Que Vier Eu Traço" (Alvaiade e Zé Maria): Contagiante, a faixa tem um suingue marcante e, na volta, dobra o andamento, mostrando a energia da dupla.
  • "Santinha" (Chico Adnet e Mário Adnet): O bandolim abre caminho para os violões de sete e oito cordas, com os cantores entregando uma interpretação pra valer.
  • "O Que Será de Mim" (Ismael Silva, Nilton Bastos e Chico Viola): Uma homenagem obrigatória ao sambista Ismael Silva, fechando o álbum com chave de ouro.

Uma Equipe de Primeira Linha

O álbum é sustentado por uma verdadeira constelação de grandes músicos da cena instrumental brasileira. A base rítmica fica por conta de Marcus Thadeu (bateria) e Paulino Dias (percussão). Nos sopros, nomes como Dirceu Leite (sax tenor) e Aquiles Moraes (trompete). A seção de cordas é luxuosa, com Maurício Carrilho (violão de 7 cordas), Paulo Aragão (violão de 8 cordas) e uma equipe de cavaquinhos que inclui Luciana Rabello e o próprio Alfredo Del-Penho. Os arranjos foram assinados por Paulo Aragão, Alfredo Del-Penho, Jayme Vignoli e Maurício Carrilho.

"Bicudos Dois" é mais do que um simples álbum; é um documento afetivo, um trabalho de resgate e de excelência musical. Publicado em 27 de dezembro de 2025, o disco se firma como uma obra perfeita para quem ama o samba em sua forma mais autêntica e bem interpretada. Os experientes cantores não se fazem de rogado e cantam pra valer, provando que a boa música e as parcerias de qualidade são eternas.