As câmeras de segurança de uma residência em Bauru, no interior de São Paulo, registraram os momentos de terror que antecederam um brutal feminicídio na tarde de sexta-feira, 26 de janeiro. As imagens, que chocaram a cidade, mostram não apenas a agressão e o assassinato de Marcelly Thomaz Pinto, de 35 anos, mas também a tentativa desesperada de seu filho, uma criança de apenas 8 anos, de proteger a mãe do ataque do próprio pai.
Os momentos de terror captados pelas lentes
Nas filmagens, é possível ver Marcelly chegando a uma casa na Rua São Gonçalo, no bairro Vila Nova Cidade Universitária, acompanhada do filho. De forma surpreendente, Adriano Nascimento, seu ex-companheiro, aparece de trás de um carro onde estava escondido e inicia imediatamente a agressão. A violência começa ainda no corredor da residência.
O menino, testemunhando a cena, tenta se interpor entre o pai e a mãe, num ato de coragem comovente e trágico. Apesar dos esforços da criança, Marcelly é derrubada no chão. Em seguida, Adriano puxa a vítima pelos cabelos e a arrasta brutalmente até a rua. Foi ali, na via pública e em frente ao próprio filho, que ele efetuou dois disparos à queima-roupa, tirando a vida da ex-companheira.
Perseguição, ameaças e a fuga inútil
O crime foi o ponto final de uma longa história de violência e perseguição. De acordo com relatos da família, Marcelly decidiu terminar o relacionamento de pouco mais de oito anos após descobrir uma traição. Desde então, ela passou a ser alvo constante de ameaças. A vítima já possuía uma medida protetiva contra Adriano devido a agressões anteriores, sendo que em uma delas teve até o maxilar quebrado.
O medo era tão grande que, apenas no mês de janeiro, Marcelly havia mudado de endereço por duas vezes na tentativa de escapar do ex-companheiro. A última mudança, infelizmente, não foi suficiente para protegê-la. Após o crime, Adriano fugiu do local levando consigo o filho do casal. A criança foi localizada mais tarde com familiares, fisicamente ilesa, mas profundamente traumatizada pela cena horrível que presenciou.
As prisões e o destino da arma do crime
A polícia agiu rapidamente e conseguiu prender Adriano Nascimento ainda na sexta-feira, no bairro Vila Industrial. Após audiência de custódia, a prisão em flagrante foi convertida em preventiva. As investigações, porém, não pararam por aí.
Imagens de outro circuito de segurança revelaram que, após o feminicídio, o suspeito foi até o local de trabalho de sua atual companheira, Eulorria Iara Palácio, de 46 anos. As filmagens mostram o casal chegando a um posto de combustíveis onde ambos trabalham. Adriano pediu a ela que escondesse a arma utilizada no crime, um revólver calibre 38.
Enquanto o assassino deixava o local, Eulorria entrou na loja de conveniência do posto. Durante uma abordagem policial, o revólver foi encontrado em seu poder. Ela foi presa por posse ilegal de arma de fogo e sua prisão também foi convertida em preventiva, por auxiliar na ocultação do instrumento do crime.
O corpo de Marcelly Thomaz Pinto foi velado e enterrado no sábado, 27 de janeiro, em Bauru. A cuidadora de idosos deixa para trás um filho que, heroicamente, tentou salvá-la, e uma família devastada por uma perda que poderia e deveria ter sido evitada. O caso reforça a discussão urgente sobre a efetividade das medidas protetivas e a necessidade de um combate mais rigoroso à violência doméstica no Brasil.