O fuzil de assalto AK-47, uma invenção russa considerada a arma mais letal e mais fabricada de todos os tempos, voltou a ocupar as manchetes internacionais nesta semana. O motivo foi a prisão de dois cidadãos brasileiros na Bolívia, flagrados quando tentavam ingressar no país transportando quatro unidades deste armamento de uso restrito.
O símbolo global da violência
Criado em 1947 na antiga União Soviética pelo engenheiro Mikhail Kalashnikov, o AK-47 (cuja sigla significa Avtomat Kalashnikova) está no centro de conflitos armados há mais de sete décadas. Sua fama se deve a características como simplicidade, resistência extrema e facilidade de manutenção, que o tornaram popular em guerras convencionais, guerrilhas e ações criminosas ao redor do planeta.
Segundo estimativas internacionais, este fuzil é responsável, em média, por cerca de 250 mil mortes por ano. Este número, somado ao longo dos anos, supera o total de vítimas das duas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos no final da Segunda Guerra Mundial, que foram aproximadamente 150 mil em Hiroshima e 75 mil em Nagasaki.
Produção em massa e tráfico ilegal
Capaz de disparar cerca de dez tiros por segundo, o AK-47 tem sua circulação facilitada pela possibilidade de intercâmbio de peças entre diferentes unidades. O Livro dos Recordes estima que existam cerca de 100 milhões de unidades no mundo, o equivalente a uma arma para cada 70 pessoas. Mais de 50 exércitos nacionais já utilizaram o modelo, além de inúmeros grupos guerrilheiros e organizações terroristas.
Atualmente, a maior produtora do fuzil é a China, que exporta principalmente para países africanos – de onde muitas armas são desviadas para o mercado ilegal. Na Rússia, a fábrica Kalashnikov, localizada na cidade de Izhevsk, a 900 km de Moscou, produz cerca de 600 mil novos fuzis por ano. Mikhail Kalashnikov, tratado como herói nacional em seu país, sempre defendeu que criou a arma para a defesa da pátria, atribuindo aos políticos a responsabilidade por seu uso letal.
Operação na fronteira Bolívia-Brasil
O poder destrutivo do AK-47 voltou ao noticiário após a interceptação de uma caminhonete, na última terça-feira, no município boliviano de Porongo. Dentro do veículo, dois brasileiros transportavam quatro fuzis do modelo, além de carregadores e munição. Segundo as autoridades, os suspeitos tentaram fugir, iniciando-se uma perseguição policial.
Durante a ação, houve ainda uma tentativa de resgate, com a aproximação de outro carro ocupado por brasileiros, que fugiram após a reação das forças de segurança bolivianas. Após a prisão, os dois homens foram expulsos da Bolívia e entregues à Polícia Federal na fronteira, em Corumbá (MS), onde permanecem detidos. Um deles já possuía mandado de prisão em aberto, expedido pela Justiça de São Paulo.
O caso levou as autoridades bolivianas a anunciarem o reforço do patrulhamento em corredores estratégicos, como medida para combater o tráfico internacional de armas. O episódio ilustra como um artefato criado há 75 anos para um conflito entre nações permanece como uma ferramenta central da violência e do crime organizado no século XXI.