A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) conquistou um marco significativo para a ciência brasileira. Duas de suas pesquisadoras foram selecionadas para atuar como autoras no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU). Elas farão parte da elaboração do 7º Ciclo de Avaliação, um dos documentos mais importantes do mundo sobre a crise do clima.
Uma conquista para a ciência brasileira e para as mulheres
As professoras Letícia Cotrim e Luciana Prado, ambas da Faculdade de Oceanografia da Uerj, foram escolhidas entre milhares de candidatos globais. Elas agora integram um grupo de 664 especialistas de 111 países. Deste total, apenas 18 pesquisadores são brasileiros, o que torna a participação da Uerj ainda mais notável: a universidade estadual é a única instituição do Brasil com duas mulheres no novo ciclo do IPCC.
Essa dupla seleção evidencia não apenas a excelência da produção científica da Uerj, mas também reforça a importância da presença feminina em espaços estratégicos de decisão global. Os relatórios do IPCC servem como base científica para a criação de políticas públicas e acordos internacionais sobre o clima, influenciando o futuro do planeta.
O papel das pesquisadoras no 7º Ciclo de Avaliação
As duas cientistas atuarão no Grupo de Trabalho 1 do IPCC, que é dedicado às bases físicas das mudanças climáticas. A primeira reunião dos autores para este ciclo já aconteceu em Paris, na primeira semana de dezembro.
A professora Letícia Cotrim, do Departamento de Oceanografia Química, foi nomeada como autora-coordenadora. Ela terá um papel de liderança no Capítulo 4, que abordará os avanços no entendimento dos processos no sistema terrestre. "Dentro do escopo delineado pelo IPCC para este capítulo, entram aspectos do funcionamento de ecossistemas terrestres, marinhos e costeiros, e suas interações com a atmosfera e a criosfera", explicou a pesquisadora, que já havia atuado como autora-líder no 6º Ciclo.
Já a professora Luciana Prado, do Departamento de Oceanografia Física e Meteorologia, foi selecionada como autora-líder para o Capítulo 2. Sua missão será compilar estudos sobre climas do passado (paleoclimatologia) para ajudar a descrever as mudanças observadas nas últimas décadas. "Olhando para essas situações, a gente consegue entender melhor como o sistema climático funciona para fazer melhores projeções futuras", completou Luciana, para quem a seleção representa um marco importante na carreira.
O que será analisado pelo Grupo de Trabalho 1?
O escopo de avaliação deste grupo é vasto e fundamental. Os especialistas vão analisar:
- Gases de efeito estufa e aerossóis na atmosfera.
- Mudanças de temperatura do ar, da terra e dos oceanos.
- Ciclo hidrológico e alterações nos padrões de chuva.
- Eventos climáticos extremos, como secas e tempestades.
- Derretimento de geleiras e calotas polares.
- Aumento do nível do mar.
- Ciclo do carbono e sensibilidade climática.
Para isso, combinarão observações atuais, dados paleoclimáticos, teoria e modelagem computacional.
Impacto global do relatório do IPCC
O relatório do IPCC é uma das principais referências internacionais sobre a crise climática. Ele é endossado por todos os países signatários da ONU e serve para orientar decisões governamentais cruciais. O documento, cujo ciclo atual será concluído em 2028, recomenda políticas públicas e ações de adaptação e mitigação, embora não obrigue os países a segui-las.
O processo de elaboração é rigoroso e inclui várias rodadas de revisão por outros cientistas e pelos governos membros antes da aprovação final. O próximo encontro dos autores está previsto para abril de 2026, em Santiago, no Chile.
A participação das professoras da Uerj coloca o Brasil em um lugar de destaque na produção do conhecimento que moldará as respostas do mundo à emergência climática na próxima década.