Explosão de foguete sul-coreano em Alcântara reacende memória da tragédia de 2003
Foguete explode no Centro de Lançamento de Alcântara

O lançamento do primeiro foguete comercial a partir do Brasil terminou em uma explosão nesta segunda-feira (22), reavivando a memória de uma das maiores tragédias da história espacial do país. O veículo HANBIT-Nano, da empresa sul-coreana Innospace, sofreu uma anomalia após decolar do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão.

Eco de uma tragédia passada

O incidente trouxe de volta à tona as lembranças do acidente ocorrido exatamente 22 anos antes, no mesmo local. Em 22 de agosto de 2003, a explosão do protótipo do Veículo Lançador de Satélites (VLS-1) matou 21 profissionais civis que trabalhavam na Torre Móvel de Integração. A tragédia, um dos maiores desastres da corrida espacial mundial, atrasou em décadas o Programa Espacial Brasileiro.

Enquanto o foguete sul-coreano não estava tripulado e já havia sido lançado, a falha de 2003 aconteceu durante os preparativos finais, antes da decolagem. Um relatório da Aeronáutica concluiu que a causa foi um "acionamento intempestivo" de um dos motores, descartando sabotagem, mas apontando falhas latentes de segurança e degradação das condições de trabalho.

Protocolos de segurança à prova

Apesar do resultado frustrante, especialistas afirmam que a explosão do HANBIT-Nano não é motivo para desânimo. Pelo contrário, o evento comprovou a eficácia dos protocolos de segurança e da infraestrutura brasileira atualizados após a tragédia de 2003. Nenhuma vida foi perdida no incidente desta semana.

Entre as melhorias implementadas no CLA está uma nova Torre Móvel de Integração, inaugurada em 2012, construída em concreto armado e com sistemas elétricos mais seguros. A base maranhense, estrategicamente localizada próxima à Linha do Equador, tem atraído empresas privadas após a conclusão do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) em 2019.

O caminho para a retomada espacial

O lançamento de segunda-feira fazia parte de um processo de retomada das atividades no CLA. Em 2023, a mesma Innospace havia realizado um teste bem-sucedido com o foguete HANBIT-TLV. A missão atual pretendia colocar em órbita oito cargas úteis, incluindo cinco satélites e três experimentos científicos de instituições brasileiras e indianas.

O Programa Espacial Brasileiro, que demandou 20 anos de pesquisa para desenvolver o VLS, agora busca impulso por meio de parcerias internacionais. Quatro empresas, incluindo a sul-coreana, estão habilitadas a usar o centro de lançamento, em um modelo que protege a tecnologia de ambos os países e mantém a jurisdição brasileira sobre o território de Alcântara.

A explosão do HANBIT-Nano serve como um lembrete dos riscos inerentes à exploração espacial, mas também evidencia um ambiente mais seguro e preparado, construído sobre as dolorosas lições do passado.