O Supremo Tribunal Federal (STF) deu início, nesta terça-feira, 30 de dezembro de 2025, aos depoimentos de figuras centrais na investigação da fraude bilionária do Banco Master. As oitivas, determinadas pelo ministro Dias Toffoli, ocorrem no âmbito de um inquérito que apura suspeitas de irregularidades graves na gestão do banco e em uma tentativa de venda para o Banco de Brasília (BRB).
Os depoimentos e os investigados
Os depoimentos presenciais começaram pouco depois das 14h e incluem o banqueiro Daniel Vorcaro, dono do liquidado Banco Master, o ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos. Vorcaro chegou ao STF ainda pela manhã, acompanhado de advogado, e será inquirido pela delegada Janaína Palazzo.
O caso ganhou proporções nacionais após o Banco Central decretar a liquidação extrajudicial do Master em novembro, uma medida extrema que suspende contratos e antecipa vencimentos para pagar credores. A decisão foi tomada após a identificação de um fluxo atípico de R$ 12,2 bilhões do BRB para o Banco Master nos primeiros meses do ano, o que acendeu o alerta das autoridades.
A engrenagem da fraude bilionária
Conforme as investigações da Polícia Federal e do Banco Central avançaram, descobriram-se indícios de uma operação complexa. A hipótese é que o Grupo Master, para cobrir um rombo financeiro, associou-se ilicitamente a uma Sociedade de Crédito Direto com o objetivo de inflar artificialmente seu patrimônio.
Isso foi feito por meio da aquisição de carteiras de créditos inexistentes ou "podres", que depois eram repassadas ao BRB. Além disso, o banco emitia CDBs com taxas acima do mercado para captar recursos – operações que já superavam R$ 50 bilhões no início do ano – alegando que o dinheiro seria aplicado em crédito. A PF concluiu que ao menos R$ 12 bilhões dessas operações não tinham lastro real.
O juiz Ricardo Leite, que decretou a prisão de Vorcaro em novembro, afirmou que as demonstrações contábeis do banco não refletiam a real situação financeira da instituição, abrindo caminho para acusações de crimes contra o sistema financeiro nacional.
Repercussão política e prejuízo histórico
O caso tem fortes ramificações políticas. Daniel Vorcaro é conhecido por seus laços com o chamado Centrão, mantendo proximidade com figuras como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o senador Ciro Nogueira, o ex-presidente da Câmara Arthur Lira e o presidente do União Brasil, Antônio Rueda.
Um projeto de lei, que tinha o senador Ciro Nogueira como padrinho, propunha ampliar para R$ 1 milhão o valor da indenização paga pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Na visão atual, a proposta beneficiaria diretamente os clientes do Master, em um momento em que o fundo se prepara para o que pode ser o maior aporte de sua história, desde sua criação em 1995, para cobrir os prejuízos.
A liquidação do Banco Master atingiu em cheio 1,6 milhão de clientes que haviam aplicado em CDBs da instituição. O conglomerado, que detinha 0,57% do ativo total e 0,55% das captações do Sistema Financeiro Nacional, deixa um rastro de prejuízos e questionamentos sobre a regulação e os elos entre poder financeiro e político no país.