Presidentes de STJ, TST e STM apoiam código de conduta para juízes e STF
Cortes Superiores defendem código de ética para magistratura

Um movimento significativo está ganhando força no topo do Poder Judiciário brasileiro. Os presidentes do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e do Superior Tribunal Militar (STM) manifestaram apoio público à proposta de criação de um código de conduta para magistrados de todo o país, incluindo os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A iniciativa, defendida historicamente pelo presidente do STF, ministro Edson Fachin, e pela presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, busca estabelecer limites mais claros para a atuação dos juízes, especialmente em meio a críticas recentes.

Pressão por transparência e limites éticos

A defesa por um marco regulatório ético ocorre em um contexto de crescentes questionamentos sobre a conduta de membros do Judiciário. A proposta visa explicitamente impor regras para palestras pagas, participação em simpósios no exterior e relações com partes interessadas em processos judiciais. O objetivo central é aumentar a transparência e evitar conflitos de interesse, reforçando a credibilidade da magistratura em um momento de intenso escrutínio público.

O presidente do STJ, ministro Herman Benjamin, foi um dos que se pronunciou. Ele argumenta que a atual Lei Orgânica da Magistratura, de 1979, ao exigir uma "conduta irrepreensível", é muito vaga. "Minha preferência, hoje, seria por um Código de Conduta concebido pela própria magistratura", afirmou Benjamin, destacando que tal iniciativa demonstraria a capacidade da classe de atender a anseios legítimos da sociedade.

Casos recentes alimentam o debate

A discussão não surge no vácuo. Ela ganha corpo após uma série de episódios envolvendo ministros do STF que levantaram dúvidas sobre a aparência de imparcialidade. Um dos casos citados é o do ministro Dias Toffoli, que viajou de jatinho para um jogo de futebol na companhia do advogado de um executivo do Banco Master e, posteriormente, assumiu a relatoria de um processo envolvendo a instituição. O mesmo magistrado determinou o sigilo de investigações sobre o banqueiro Daniel Vorcaro.

Outro exemplo envolve o ministro Alexandre de Moraes, que pode ser chamado a julgar casos do Banco Master mesmo após a revelação de que o escritório de advocacia de sua esposa firmou um contrato milionário com o banco. A lista de preocupações inclui ainda a frequente participação de magistrados em eventos internacionais patrocinados por empresas com causas no tribunal e a atuação de familiares em processos em tramitação.

Fachin como exemplo e o apoio das Cortes

Em contraste com essas práticas, o presidente do STF, Edson Fachin, é apontado como exemplo de comedimento. Ele viaja apenas em voos comerciais, não participa de palestras remuneradas e complementa sua renda com aulas em uma faculdade privada de Brasília, atividade permitida pela lei.

Seu posicionamento encontrou eco imediato entre os presidentes das outras Cortes Superiores. O ministro Vieira de Mello Filho, presidente do TST, classificou a atitude de Fachin como "muito positiva" e merecedora de todo apoio, pois promove transparência ao Judiciário. "Não há motivo para sermos contra um código que reforce os valores éticos que já são praticados", declarou.

A presidente do STM, ministra Maria Elizabeth Rocha, também endossou a necessidade de clareza. "É preciso que haja clareza nas atitudes e no comportamento da magistratura, sobretudo da magistratura superior. Não se trata de um moralismo barato, mas de um dever cívico", afirmou.

O que deve conter o código

Embora o texto formal da proposta ainda não exista, a ideia em discussão prevê a limitação de presentes e cachês em eventos privados, a obrigação de divulgação e prestação de contas sobre palestras patrocinadas e a reafirmação da importância da autocontenção em declarações públicas fora dos processos judiciais. O movimento, portanto, representa um esforço interno do Judiciário para responder a demandas por maior integridade e fortalecer seus pilares éticos perante a sociedade brasileira.