Em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU realizada nesta terça-feira (23), diplomatas da Rússia e da China lançaram duras críticas aos Estados Unidos. Os países acusaram Washington de exercer uma pressão militar e econômica contra a Venezuela, comportamento que classificaram como intimidação e atitude de "cowboy".
Troca de acusações no Conselho de Segurança
O embaixador americano na ONU, Mike Waltz, respondeu às acusações durante o encontro, solicitado pela Venezuela e apoiado por seus aliados. Waltz afirmou que os Estados Unidos "farão tudo o que estiver em seu poder para proteger o hemisfério, as fronteiras e o povo americano".
Ele anunciou ainda a imposição de "sanções máximas" destinadas a privar o que chamou de "ditador" Nicolás Maduro de recursos. Segundo a posição oficial de Washington, esses recursos financiariam o chamado Cartel de Los Soles, organização designada como terrorista pelos EUA em novembro.
"A capacidade de Maduro de vender o petróleo da Venezuela permite sua reivindicação fraudulenta ao poder e suas atividades narcoterroristas", declarou Waltz, completando que o povo venezuelano merece algo melhor.
A escalada militar e a nova lei venezuelana
As declarações ocorrem em meio a uma crescente tensão militar. Nesta mesma terça, a Venezuela aprovou uma lei para combater a "pirataria nos mares do mundo", uma resposta direta às ações navais americanas contra petroleiros em suas costas.
A nova legislação prevê penas severas:
- Prisão de 15 a 20 anos para quem promover ou apoiar atos de pirataria ou bloqueio.
- Multas que podem alcançar 1 milhão de euros (cerca de R$ 6,5 milhões).
Nicolás Maduro classificou a medida como de "grande poder". A ação segue ameaças públicas do presidente dos EUA, Donald Trump, que na segunda-feira (22) alertou que a resposta americana "depende dele [Maduro]" e que, se o líder venezuelano "se mostrar duro, será a última vez que poderá fazê-lo".
Maduro respondeu horas depois, em transmissão estatal, sugerindo que Trump "estaria melhor" se focasse nos problemas internos dos Estados Unidos. "Não é possível que 70% de seus discursos e declarações sejam [sobre] a Venezuela. Mas e os Estados Unidos?", questionou.
O cerco econômico e suas consequências
A economia venezuelana, dependente da exportação de petróleo, enfrenta um embargo americano desde 2019. O país, que detém as maiores reservas mundiais do combustível e produz cerca de um milhão de barris por dia, vê-se forçado a vender grande parte de sua produção no mercado paralelo, com descontos significativos.
Analistas alertam que um bloqueio naval total por parte dos EUA poderia asfixiar completamente a economia nacional, aumentando drasticamente a pressão pela saída de Maduro do poder. O cerco militar já incluiu a captura do petroleiro Skipper em 10 de dezembro, o anúncio de um "bloqueio total" em 16 de dezembro e a interceptação de outras duas embarcações em 20 de dezembro.
Enquanto os EUA acusam Maduro de chefiar o Cartel de Los Soles, supostamente formado por militares e ex-militares, o governo venezuelano nega veementemente a existência do grupo. Para Caracas, trata-se de uma "narrativa" fabricada por Washington como pretexto para uma intervenção. Especialistas em narcotráfico, por sua vez, debatem se o cartel é uma organização formal ou uma rede flexível de autoridades corruptas.