A escalada do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o governo de Nicolás Maduro na Venezuela tem um objetivo central que vai além do discurso oficial de combate ao narcotráfico: o controle estratégico sobre as maiores reservas de petróleo do planeta. Enquanto isso, o Brasil mantém uma postura distinta, defendendo o diálogo e rejeitando qualquer intervenção militar externa.
O petróleo como prêmio geopolítico
A Venezuela detém cerca de 17% das reservas globais comprovadas de petróleo, um volume estimado em mais de 300 bilhões de barris. Esse número é quase quatro vezes superior às reservas dos próprios Estados Unidos. Para a administração Trump, garantir o acesso a esse recurso é uma prioridade estratégica para reafirmar a influência americana no hemisfério ocidental e conter a expansão da China na região.
Recentemente, Washington intensificou suas ações. No Caribe, um petroleiro que transportava óleo venezuelano com destino a Cuba e China foi apreendido. Trump anunciou ainda que os EUA passarão a bloquear embarcações associadas às sanções impostas ao setor energético da Venezuela. Especialistas em direito internacional questionam a legalidade dessas medidas.
Estima-se que, nos últimos meses, ao menos 25 ações contra embarcações ligadas ao comércio de petróleo venezuelano tenham resultado em dezenas de mortes, aumentando o risco de uma escalada militar.
Alinhamentos internos e a posição brasileira
Dentro da Venezuela, a principal líder da oposição, María Corina Machado, tem ecoado o interesse internacional. Em encontros com empresários e políticos americanos, ela defendeu a abertura total da cadeia de petróleo e gás ao capital privado estrangeiro e prometeu reduzir drasticamente a presença chinesa e russa no país caso chegue ao poder.
Enquanto isso, o Brasil adota um caminho diferente. O governo Lula trabalha pela normalização das relações diplomáticas com Caracas, pelo diálogo político e pelo fim das sanções unilaterais, vistas como agravantes da crise humanitária. A diplomacia brasileira rejeita intervenções militares externas e sustenta que a solução para a crise venezuelana deve vir de negociações internas com mediação internacional.
No campo prático, a Petrobras já realizou importações limitadas de petróleo venezuelano e avalia cooperações, mas evita compromissos mais profundos devido à instabilidade jurídica e ao impacto das sanções.
China, risco e o futuro incerto
Atualmente, cerca de 80% das exportações de petróleo da Venezuela têm a China como destino, o que faz do país asiático um pilar econômico crucial para o regime de Maduro. No entanto, Pequim tem agido com cautela, reduzindo investimentos diretos para não violar sanções americanas.
Analistas alertam que uma eventual queda violenta do governo Maduro poderia gerar uma instabilidade prolongada, afastando grandes petroleiras ocidentais – um cenário semelhante ao que ocorreu no Iraque e na Líbia após intervenções.
A Chevron é a única grande empresa americana ainda em operação no país, atuando sob licença especial em parceria com a estatal PDVSA. Qualquer movimento amplo de privatização no setor, estatizado nos anos 1970, esbarra em um apoio popular relevante, tornando a questão extremamente sensível.
A ofensiva de Trump recoloca, portanto, o petróleo venezuelano no centro de uma complexa disputa geopolítica, com impactos diretos na segurança energética e na estabilidade política de toda a América Latina.