O tratado comercial entre o Mercosul e a União Europeia enfrentou um novo obstáculo significativo nesta terça-feira (16), em Estrasburgo. O Parlamento Europeu aprovou as cláusulas de salvaguarda inseridas no acordo para atenuar a oposição da França, mas estabeleceu uma condição mais rigorosa do que a proposta inicial da Comissão Europeia.
Nova regra é mais severa e mira produtos brasileiros
O ponto central da mudança está no gatilho que dispara uma investigação por parte de Bruxelas. A nova regra determina que uma investigação será aberta se a flutuação nos preços de produtos considerados sensíveis for superior a 5%, e não aos 10% previstos no texto original. Esta alteração, que ainda precisa ser negociada com o Conselho da UE, tem como alvo principal a carne bovina, a carne de aves e o açúcar, setores onde o Brasil é um dos maiores exportadores globais.
O temor dos legisladores europeus é de que uma eventual crise na cadeia produtiva agrícola do bloco abra espaço para uma "invasão" de produtos sul-americanos a preços mais baixos, prejudicando os produtores locais.
Corrida contra o tempo e o bloqueio liderado pela França
O próximo passo crucial está marcado para quinta-feira (18), quando o acordo deve ser levado ao Conselho da UE, onde cada um dos 27 países-membros tem um voto. A França, historicamente contrária ao tratado e vivendo uma semana de protestos de agricultores, busca formar uma minoria de bloqueio.
Com o apoio declarado da Itália, somado aos votos certos da Polônia e da Hungria, Paris se aproxima de um grupo capaz de impedir a aprovação final. Para barrar uma proposta no Conselho, são necessários pelo menos quatro países que representem 35% da população da UE.
A pressão pela conclusão do acordo, no entanto, é grande. Durante um jantar em Berlim na véspera, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, foi pressionada pelo anfitrião, o chanceler alemão Friedrich Merz, e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sobre a necessidade de aprovar o tratado.
Risco geopolítico e a visita de Von der Leyen ao Brasil
A resistência francesa preocupa também o governo brasileiro, que se prepara para receber Ursula von der Leyen no sábado (20) para uma cerimônia de assinatura. O acordo criaria um dos maiores mercados de livre comércio do planeta, com 722 milhões de pessoas.
Em comunicado no fim de semana, o governo francês, através do gabinete do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, pediu formalmente o adiamento da tramitação: "A França solicita que se adiem os prazos de dezembro para continuar o trabalho e obter as medidas de proteção legítimas de nossa agricultura europeia".
O comissário europeu de Comércio, Maros Sefcovic, alertou que um novo fracasso da UE em fechar o acordo pode comprometer ainda mais seu papel no cenário global, já afetado pelas tarifas de Donald Trump e pela competição tecnológica com a China. A decisão final agora depende de uma complexa negociação política nas próximas 48 horas.