Lula cobra 'coragem' da UE em acordo com Mercosul após 26 anos de negociação
Lula pede coragem à UE para acordo com Mercosul

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo direto aos líderes da União Europeia por "coragem" política para finalizar o acordo comercial com o Mercosul. O pedido foi realizado durante a cúpula do bloco sul-americano, realizada neste sábado (20 de dezembro de 2025) em Foz do Iguaçu, no Paraná. O encontro, que aconteceu diante das Cataratas do Iguaçu, foi marcado por um clima de impaciência dos países membros com o contínuo adiamento da assinatura do tratado, cujas negociações já se estendem por mais de duas décadas.

Pressão sul-americana e novas datas

Lula foi enfático ao declarar que, sem a vontade política necessária, não será possível concluir um processo que dura 26 anos. Apesar das reticências de países como França e Itália, o presidente brasileiro manifestou confiança de que a assinatura ocorrerá em janeiro de 2026, conforme indicado pela Comissão Europeia. Uma fonte europeia e diplomatas chegaram a mencionar o dia 12 de janeiro como a nova data prevista para a cerimônia, que supostamente aconteceria no Paraguai, próximo país a assumir a presidência rotativa do Mercosul.

No entanto, o chanceler paraguaio, Rubén Ramírez, presente na reunião, afirmou não ter recebido nenhuma comunicação oficial sobre essa nova agenda. A indefinição levou os chanceleres do Paraguai e da Argentina a pressionarem publicamente o bloco europeu, alertando que os prazos para a conclusão do acordo não são infinitos.

Mercosul busca alternativas e divisão na Europa

Enquanto aguarda uma definição europeia, o Mercosul já está de olho em outros mercados. Lula anunciou que o bloco está avançando nas aproximações comerciais com Canadá, Emirados Árabes Unidos e Índia. Essa movimentação reforça a mensagem de que a parceria com a UE, embora prioritária, não é a única opção para os países sul-americanos.

A resistência europeia ao acordo tem como pano de fundo a preocupação de agricultores, principalmente na França e na Itália, com a entrada de produtos como carne, soja, arroz e mel do Mercosul, considerados mais competitivos devido a normas de produção menos rigorosas. Enquanto esses países travam o processo, nações como Alemanha, Espanha e os países nórdicos são favoráveis ao pacto, que abriria portas para a exportação de veículos, máquinas, vinhos e destilados europeus para a América do Sul.

Lula citou ainda conversas com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que teria garantido a disposição de seu país para assinar nas próximas semanas. Ele também destacou que, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, a França sozinha não terá poder para vetar o acordo.

Encontro presidencial nas cataratas

A cúpula em Foz do Iguaçu reuniu, além de Lula, os presidentes Javier Milei (Argentina), Santiago Peña (Paraguai), Yamandú Orsi (Uruguai) e José Raúl Mulino (Panamá). O encontro simbólico em um dos cartões-postais do continente serviu como palco para reforçar a união do bloco e sua disposição de seguir adiante, com ou sem a União Europeia. O chanceler argentino, Pablo Quirno, aproveitou o momento para defender uma revisão nas prioridades de relacionamento externo do Mercosul, buscando acordos bilaterais mais ágeis e com resultados concretos.

O impasse histórico coloca em xeque o futuro de uma das maiores zonas de livre comércio do mundo, enquanto os líderes sul-americanos deixam claro que a janela de oportunidade para a Europa pode não permanecer aberta para sempre.