O Senado dos Estados Unidos deu um passo decisivo na política de defesa do país ao aprovar, nesta quarta-feira, 17 de dezembro de 2025, um projeto de lei orçamentária monumental para as forças armadas. O pacote, avaliado em US$ 901 bilhões (equivalente a mais de R$ 4,9 trilhões), estabelece um novo recorde de gasto militar anual e contém disposições significativas para o apoio contínuo à Ucrânia, além de reforçar a presença americana na Europa.
Detalhes da Lei de Autorização de Defesa Nacional
A votação no Senado foi amplamente favorável, com um placar de 77 votos a 20, demonstrando um apoio bipartidário massivo à medida. A Lei de Autorização de Defesa Nacional (NDAA) para o ano fiscal de 2026 vai muito além de um simples orçamento. Ela autoriza um aumento salarial de 4% para as tropas americanas, além de compras de equipamentos militares e iniciativas para aumentar a competitividade dos EUA frente a rivais como China e Rússia.
Um dos pontos centrais do texto é a destinação de US$ 800 milhões (cerca de R$ 4,4 bilhões) para o governo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Esse montante faz parte da Iniciativa de Assistência à Segurança da Ucrânia e será liberado em parcelas de US$ 400 milhões ao longo dos dois próximos anos.
Reforço na Europa e "vitórias" de Trump
Em uma clara movimentação contrária às vontades expressas pelo presidente Donald Trump, a legislação aprovada prevê o fortalecimento da segurança no continente europeu. A medida dá sinal verde para a Iniciativa de Segurança do Báltico, que enviará US$ 175 milhões para apoiar a defesa da Letônia, Lituânia e Estônia, países que fazem fronteira com a Rússia.
A lei também impõe limites significativos ao poder do Departamento de Defesa (renomeado por Trump como Departamento de Guerra), impedindo que reduza o número de tropas americanas na Europa para menos de 76 mil militares. Além disso, a norma bloqueia a possibilidade de o Comandante Europeu dos EUA renunciar ao título de Comandante Supremo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Contudo, a legislação também carrega marcas da agenda do presidente Trump. Ela inclui medidas voltadas para a chamada "guerra cultural", como a proibição da participação de mulheres transgênero em programas esportivos femininos nas academias militares dos Estados Unidos.
Contexto de tensão com a Rússia
A aprovação do colossal orçamento de defesa ocorre em um momento de elevada tensão diplomática e militar entre o Ocidente e a Rússia. No mesmo dia, o presidente russo, Vladimir Putin, voltou a negar qualquer intenção de entrar em um conflito militar direto com a Europa. Ele classificou a preocupação ocidental como sintoma de uma "histeria" e afirmou que a Rússia busca cooperação mútua.
Essas declarações contrastam com ações recentes e preocupações concretas de nações europeias. No início de dezembro, Putin já havia advertido que seu governo "não planeja entrar em guerra com a Europa; mas se a Europa entrar, estamos prontos agora mesmo".
A apreensão é compartilhada por países do flanco leste da União Europeia. Um dia antes da aprovação no Senado americano, nações como Suécia, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia e Bulgária assinaram uma declaração conjunta alertando que a sensação de segurança "mudou de forma irreversível" após a invasão da Ucrânia. O documento pedia uma priorização "imediata e urgente" das capacidades defensivas desses países.
Incidentes recentes, como a incursão de drones no espaço aéreo da Romênia no final de novembro – que levou ao envio de caças da Otan para a fronteira com a Ucrânia –, são vistos pela Europa como parte de uma guerra híbrida movida pelo Kremlin, combinando táticas militares, ciberataques e campanhas de desinformação.
A aprovação da NDAA de 2026 pelos EUA representa, portanto, mais do que uma decisão orçamentária. É um forte sinal político de comprometimento com a Otan e de contenção à Rússia, definindo os rumos da geopolítica global para o próximo ano em um cenário de conflito prolongado na Ucrânia e desconfiança crescente.