Uma publicação considerada preconceituosa do presidente da Argentina, Javier Milei, gerou uma onda de reações imediatas e humoradas de brasileiros nas redes sociais. O fato ocorreu na última segunda-feira, 15 de dezembro de 2025, quando o mandatário ultralibertário compartilhou uma ilustração em seus stories do Instagram que retratava países governados pela esquerda, como o Brasil, com a imagem de uma favela.
A polêmica publicação e a reação imediata
Na postagem, que desapareceu após 24 horas conforme a dinâmica da ferramenta, as nações lideradas por governos de direita eram mostradas como um paraíso futurista. O episódio ganhou ainda mais relevância por acontecer logo após a eleição do ultradireitista José Antonio Kast como presidente do Chile, alterando o equilíbrio de forças no continente.
Os brasileiros não perderam tempo e foram em massa ao perfil oficial de Milei no Instagram para expressar seu repúdio, muitas vezes com o humor característico. Os comentários variavam de provocações esportivas, como "Pelé é melhor que Maradona", a observações econômicas contundentes: "Pare de falar do Brasil, o que vocês ganham em um ano, o Brasil ganha isso em um dia". Outro usuário ainda ironizou: "O sonho do Milei é ser brasileiro".
O novo mapa político da América do Sul
A ilustração compartilhada por Milei reflete uma mudança concreta no cenário político regional. Com a vitória de Kast sobre Jeannette Jara, candidata apoiada pelo presidente de esquerda Gabriel Boric, o placar ideológico na América do Sul agora está empatado. Se antes os progressistas lideravam por sete a cinco, atualmente são seis países governados pela esquerda e seis pela direita.
Segundo a divisão apresentada, do lado da esquerda estão: Brasil (Luiz Inácio Lula da Silva), Colômbia (Gustavo Petro), Guiana (Irfaan Ali), Suriname (Jennifer Simons), Uruguai (Yamandú Orsi) e Venezuela (Nicolás Maduro).
Do lado da direita figuram: Argentina (Javier Milei), Bolívia (Rodrigo Paz), Chile (José Antonio Kast), Equador (Daniel Noboa), Paraguai (Santiago Peña) e Peru (José Neri).
Contexto histórico da alternância ideológica
Essa oscilação entre governos de esquerda e direita não é um fenômeno novo na história sul-americana. Até meados do século XX, a maioria dos países da região viveu sob ditaduras, incluindo Brasil e Argentina. A guinada à esquerda, conhecida como "onda rosa", consolidou-se no início dos anos 2000, impulsionada pelo boom das commodities devido à demanda chinesa.
Esse período de crescimento econômico e apelo por redução da desigualdade social sofreu um abalo com a crise financeira global de 2008, resultante da bolha imobiliária nos Estados Unidos, e com a posterior queda no valor das commodities. Esses fatores abriram caminho para uma nova ascensão conservadora, em uma região marcada por sua histórica instabilidade democrática.
A postagem de Milei e a reação dos brasileiros ilustram como as tensões políticas regionais agora também se desenrolam no campo das redes sociais, com cidadãos usando o humor e a crítica direta para responder a provocações de líderes estrangeiros. O episódio deixa claro que, no cenário político atual, as fronteiras digitais são tão significativas quanto as geográficas.