A presença da venezuelana María Corina Machado, opositora do regime de Nicolás Maduro e vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025, no Hay Festival de Cartagena, na Colômbia, gerou uma onda de protestos que resultou na desistência de pelo menos três escritores convidados para o evento. A informação foi divulgada pelo jornal britânico The Guardian.
Boicote de autores contra "intervencionista"
Os autores justificaram a retirada como um protesto contra o apoio de Machado à campanha de pressão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o governo venezuelano. Em uma carta, a romancista colombiana Laura Restrepo descreveu a política como "uma apoiadora ativa da intervenção militar dos Estados Unidos na América Latina".
"Não se deve dar espaço nem facilitar audiência a alguém que, como a sra. Machado, promove posições e atividades que submetem nossos povos e minam a soberania de nossos países", afirmou Restrepo. "A intervenção imperialista não é algo a ser debatido, mas rejeitado de forma categórica."
Críticas à "validação" de discurso
O autor colombiano Giuseppe Caputo também anunciou o cancelamento em suas redes sociais. "Acho que, diante do grave momento de escalada da violência imperial, é melhor se retirar de um festival realizado às margens do bombardeado mar do Caribe, que decidiu convidar alguém que dedicou um prêmio da paz ao fascista responsável por esses crimes", escreveu.
A terceira desistência foi da escritora e ativista dominicana Mikaelah Drullard. Ela argumentou que o convite do festival equivale a uma validação do discurso de Machado e serve como "uma arma ideológica" para promover justificativas para intervenção e militarização dos EUA na região, além de endossar o sucesso da ultradireita no Chile.
Festival defende liberdade de expressão e participação segue
Apesar das críticas, a participação de María Corina Machado no festival segue confirmada. Ela fará uma conversa virtual com o jornalista venezuelano Moisés Naím no dia 30 de janeiro. Sua equipe informou ao The Guardian que ela não comentará o protesto dos escritores.
Em comunicado, a organização do Hay Festival afirmou respeitar a decisão dos autores, mas defendeu que um diálogo aberto e diverso é essencial para a livre troca de ideias. "É importante esclarecer que o Hay Festival não se alinha nem endossa as opiniões, posições ou declarações daqueles que participam de suas atividades, nem suas visões políticas", acrescentou o texto.
Machado confirma saída da Venezuela com ajuda americana
Em recente entrevista, já em Oslo, na Noruega, para receber o Nobel, María Corina Machado revelou detalhes sobre sua saída da Venezuela. Ela confirmou que contou com a ajuda de diversas pessoas e também dos Estados Unidos para deixar o país e viajar para a cerimônia de premiação, ocorrida em 11 de dezembro de 2025.
A oposicionista, que sofreu uma fratura na vértebra durante a fuga, afirmou que levará o prêmio de volta para a Venezuela, indicando sua intenção de retornar ao país apesar das ameaças de prisão do regime Maduro. "Os venezuelanos estão sentindo que o mundo está com a gente", declarou, acrescentando que sente "um momento de virada" na história da nação.
Questionada sobre o apoio a uma intervenção militar norte-americana, Machado foi enfática: "A Venezuela já foi invadida". Ela citou a presença de agentes da Rússia e do Irã, grupos como Hezbollah e Hamas, a guerrilha colombiana e cartéis de drogas atuando no território com apoio do governo. "Precisamos cortar o apoio a esse sistema, e foi isso que pedimos à comunidade internacional", concluiu a Nobel da Paz.