Desde o seu retorno à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva manifesta, de forma recorrente e quase obsessiva, um desejo político específico: ver o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como candidato ao governo do estado de São Paulo. A insistência do presidente, que se repete com poucas variações, se choca frontalmente com a resistência do próprio ministro, que não demonstra interesse na empreitada eleitoral.
O desejo persistente de Lula e a pressão velada
Em suas falas públicas, Lula tenta vestir de deferência um claro movimento de pressão. Ele frequentemente afirma respeitar a autonomia de Haddad, mencionando que o ministro "tem maioridade" e "biografia" para tomar suas próprias decisões. No entanto, o mandatário nunca deixa de, em seguida, explicitar sua expectativa pessoal de vê-lo na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.
A declaração mais recente, dada em 21 de dezembro de 2025, é apenas mais um capítulo dessa narrativa de insistência. A estratégia do presidente é clara: ele busca um candidato de peso em São Paulo para fortalecer o palanque nacional da sua base política nas próximas eleições presidenciais.
A resistência firme de Fernando Haddad
Do outro lado, a posição de Fernando Haddad é igualmente clara e tem sido consistente ao longo do tempo. O ministro não quer ser candidato. Ele não quis no passado, não quer atualmente e tudo indica que não quererá no futuro previsível.
À frente do Ministério da Fazenda, Haddad construiu uma posição que demanda estabilidade, previsibilidade e foco total – elementos que são diametralmente opostos ao turbilhão de uma campanha eleitoral, especialmente em um estado complexo como São Paulo. Além disso, o ministro tem plena consciência do cenário político local.
Haddad avalia que uma candidatura neste momento seria prejudicial para a sua própria trajetória política, diante da força do governador em exercício, Tarcísio de Freitas, que aparece virtualmente reeleito nas pesquisas e projeções.
Um impasse com lógica política, mas sem solução
A obsessão de Lula, portanto, tem uma lógica política compreensível do ponto de vista da articulação nacional. São Paulo é um estado-chave e ter um nome forte na disputa governamental é visto como crucial para arrastar votos para a eleição presidencial.
O problema, no entanto, é que essa lógica ignora solenemente a vontade explícita do seu principal auxiliar econômico. O presidente parece não aceitar a resposta que já foi dada há tempos. No fundo, o desejo de Lula por Haddad em São Paulo já foi negado pelo próprio interessado. O chefe do Executivo federal apenas demonstra, com sua insistência, que não gostou da resposta que recebeu.
O impasse segue como um ponto de tensão silenciosa no alto escalão do governo, ilustrando um conflito entre um projeto coletivo de poder, defendido por Lula, e um projeto de carreira e atuação técnica, defendido por Haddad. A bola, por enquanto, continua no campo do ministro, que permanece firme em sua recusa.