Dólar caminha para maior queda anual desde 2017, com perdas de 9,5%
Dólar tem maior desvalorização anual desde 2017

O dólar americano está a caminho de fechar o ano de 2025 com sua maior desvalorização anual desde 2017. A moeda perdeu cerca de 9,5% de seu valor frente a uma cesta de moedas globais, em um movimento influenciado pela política monetária do Federal Reserve (Fed) e pela guerra comercial liderada pelo ex-presidente Donald Trump.

Pressão da política monetária e incertezas políticas

A trajetória de queda da moeda americana ganhou força a partir de abril de 2025, quando a imposição de tarifas comerciais por Donald Trump contra parceiros dos EUA gerou temores sobre a economia do país. Nesse período, o dólar chegou a cair até 15% frente às principais moedas, antes de uma recuperação parcial.

No entanto, o gatilho decisivo foi a retomada do ciclo de cortes de juros pelo Fed em setembro de 2025. Enquanto o banco central americano afrouxa sua política, outras instituições, como o Banco Central Europeu (BCE), mantêm ou até elevam suas taxas, criando um cenário de divergência monetária que pesa sobre o dólar.

Analistas de Wall Street projetam que o Fed realizará mais dois ou três cortes de 0,25 ponto percentual ao longo de 2026. Essa perspectiva mantém a pressão de baixa sobre a moeda, que pode se intensificar com uma eventual mudança na liderança do Fed. Especula-se que Kevin Hassett possa suceder Jay Powell, alinhando-se mais às demandas do governo Trump por uma política monetária mais intervencionista.

Moedas rivais em alta e projeções para 2026

Entre as principais moedas, o euro foi a que mais se valorizou, registrando um ganho de quase 14% e superando a marca de US$ 1,17, patamar não visto desde 2021. Projeções de instituições financeiras de Wall Street indicam que a moeda europeia pode chegar a US$ 1,20 até o final de 2026.

A libra esterlina também deve se fortalecer, com expectativa de subir de US$ 1,33 para US$ 1,36. Esse movimento reflete a reavaliação dos investidores sobre a posição global do dólar, com grandes fundos, especialmente na Europa, reestruturando suas posições cambiais e reduzindo a exposição não protegida (unhedged) à moeda americana.

Impactos na economia real e cenário futuro

A desvalorização do dólar tem efeitos assimétricos na economia global. Para os exportadores americanos, ela representa uma vantagem competitiva, tornando seus produtos mais baratos no exterior. Por outro lado, empresas europeias que dependem do mercado norte-americano enfrentam custos mais altos e maior incerteza.

Especialistas apontam que o avanço da inteligência artificial e a expansão tecnológica nos Estados Unidos podem sustentar o crescimento econômico do país, limitando o espaço para cortes de juros muito agressivos pelo Fed. "Não acreditamos que as políticas econômicas de Trump possam interromper a revolução tecnológica em curso na Costa Oeste", afirmou Kit Juckes, estrategista de câmbio do Société Générale.

O desempenho do dólar em 2026 será, portanto, um reflexo direto de uma combinação complexa de fatores:

  • A velocidade e a profundidade dos cortes de juros pelo Federal Reserve.
  • As escolhas estratégicas do novo presidente do Fed.
  • A dinâmica dos fluxos de capital global e a reavaliação de risco pelos investidores.
  • O ritmo do crescimento econômico americano frente ao europeu.

A moeda americana permanece no centro das atenções dos mercados financeiros e governos ao redor do mundo, com sua trajetória influenciando decisões de investimento, preços de commodities e a competitividade das economias.