O mercado financeiro brasileiro encerrou 2025 com um desempenho histórico, registrando os melhores resultados desde 2016. Tanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, quanto o real frente ao dólar apresentaram uma performance robusta, impulsionados por um forte fluxo de investidores estrangeiros em busca de diversificação fora dos Estados Unidos.
Números que marcam um ano excepcional
Na última sessão do ano, realizada nesta terça-feira (3), o Ibovespa acumulou uma valorização de 33,7% em 2025. Esse é o avanço mais significativo desde 2016, quando o índice subiu 39% em um ano marcado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em dólares, a variação também foi a maior em nove anos.
O câmbio acompanhou o otimismo. O real se fortaleceu consideravelmente contra o dólar, com a moeda americana registrando uma queda de 11,19% ao longo do ano. Essa desvalorização do dólar é a mais intensa desde 2016, quando a divisa norte-americana cedeu 17,8%.
Os motores por trás da alta: juros dos EUA e aversão ao risco americano
Especialistas apontam que o movimento foi conduzido por fatores externos. O Federal Reserve (Fed), banco central americano, cortou a taxa de juros dos EUA três vezes em 2025, reduzindo-a da faixa de 4,25%-4,5% para a banda de 3,5%-3,75% ao ano.
"A causa principal da alta da Bolsa brasileira foi o Fed ter cortado a taxa de juros americana três vezes. E, quando isso acontece, você empurra muito dinheiro de ativos de menor risco para ativos de maior risco, como crédito privado, ações e mercados emergentes", explica Rafael Costa, fundador da Cash Wise Investimentos.
Até 23 de dezembro, a B3 recebeu um influxo líquido de R$ 26,8 bilhões em recursos estrangeiros. Esse movimento foi amplificado pelos receios em relação à política econômica protecionista do presidente dos EUA, Donald Trump.
"As incertezas e ruídos em torno das tarifas incentivaram a saída de capital dos Estados Unidos e a busca por oportunidades em mercados fora do eixo americano, o que beneficiou países emergentes como o Brasil", afirma Bruna Sene, analista de Renda Variável da Rico.
Contexto doméstico e um alerta de cautela
No cenário interno, o fim do ciclo de alta da Selic e a expectativa de cortes de juros a partir de 2026 também alimentaram o otimismo. Tales Barros, diretor de renda variável da W1 Capital, destaca que as empresas do Ibovespa estavam com avaliações atrativas. "As empresas do Ibovespa estavam com um desconto historicamente bem atrativo, estando baratas em relação à média histórica e aos pares globais", diz.
Contudo, ele e outros analistas ponderam que o bom desempenho não reflete necessariamente uma melhoria profunda na economia brasileira, citando inflação resistente e questões fiscais. Um dado que chama a atenção é a queda no volume financeiro médio diário negociado à vista na B3, que ficou em R$ 16,4 bilhões no terceiro trimestre, o menor patamar desde o mesmo período de 2019.
"O comportamento sugere que a alta da bolsa não tem sido acompanhada por uma ampliação da participação dos investidores, uma divergência que, em teoria, indica fragilidade na tendência", avalia Einar Rivero, CEO da Elos Ayta.
Perspectivas para 2026 e o destaque do ouro
Apesar da volatilidade esperada devido ao cenário eleitoral, a expectativa para 2026 é positiva. A Rico projeta que cortes da Selic já no primeiro trimestre podem fortalecer a renda variável. O Itaú espera que o Ibovespa avance para a faixa de 165 mil a 180 mil pontos, com cenário mais otimista em 189 mil. A XP vê um patamar justo em 185 mil pontos.
Em meio a esse cenário, um ativo se destacou: o ouro foi o investimento que mais rendeu em 2025, com uma valorização impressionante de 65,24%, segundo a Elos Ayta. A busca por proteção contra a desvalorização do dólar e as incertezas geopolíticas explicam a performance.
Para comparação, o CDI, índice que rege muitas aplicações de renda fixa, rendeu 14,20% no ano, enquanto a caderneta de poupança teve uma valorização de 8,19%.