O cenário inflacionário do país apresentou uma virada significativa em 2025. Após uma alta de 6,54% no ano anterior, impulsionada pela valorização do dólar, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) encerrou o período com uma queda de 1,05%, conforme apuração da Fundação Getúlio Vargas até 20 de dezembro.
Queda no atacado e alta no consumo: o que explica o resultado?
O IGP-M, assim como o IGP-Di que fechou nesta terça-feira, 30, é um índice híbrido que mede preços no atacado, no varejo e na construção civil. A deflação registrada foi puxada principalmente por fortes quedas nos preços de produtos agropecuários no atacado, que recuaram 6,30%, e de bens industriais, com baixa de 3,35%.
No entanto, o panorama não é uniforme. Enquanto o atacado apresentou números negativos, o índice de preços ao consumidor subiu 4,08% no período. O setor de construção civil foi o que mais pressionou para cima, com o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) registrando uma alta expressiva de 6,10%.
O dilema dos aluguéis e o risco de conflitos
Esta divergência entre os componentes do índice cria um cenário complexo para o mercado imobiliário. Pelas regras dos contratos de locação que utilizam a variação do IGP-M ou do IGP-Di como indexador, os aluguéis deveriam ser reduzidos no início de 2026.
Ocorre que os custos para o proprietário, representados pela alta do INCC, seguem em direção oposta. Este descasamento pode levar a uma onda de tentativas de retomada de imóveis por parte dos locadores, que alegarão prejuízo. Especialistas alertam que, diante dessa situação, o inquilino deve estar atento ao que está escrito no contrato.
"Mesmo que o proprietário alegue necessidade de uso para um parente, o inquilino deve procurar um bom advogado e fazer valer os direitos contratuais", destaca a análise. A situação lembra as renegociações negativas ocorridas durante a pandemia de Covid-19, mas agora com dinâmicas de mercado diferentes.
Inflação controlada para 2026 e o peso dos juros
O lado positivo da queda dos índices de inflação no atacado, especialmente de alimentos, é a perspectiva de um IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) mais contido no próximo ano. A consultoria 4Intelligence projeta uma taxa entre 3,5% e 3,6% para 2026, abaixo da previsão de 4,05% do último relatório Focus do Banco Central.
Outros preços públicos atrelados ao IGP-M, como pedágios, também devem ter reajustes baixíssimos, contribuindo para segurar a inflação. A projeção leva em conta cenários que variam o câmbio entre R$ 5,40 e R$ 5,50 e a taxa Selic entre 12,25% e 15% ao final de 2026.
É justamente o custo dos juros que segue como um dos grandes desafios para as contas públicas. Com a Selic em 15% ao ano, o Banco Central estima que cada ponto percentual de aumento onera o Tesouro Nacional em R$ 61,4 bilhões em 12 meses. Em novembro, os gastos com juros somaram R$ 87,217 bilhões, e de janeiro a novembro, a cifra acumulada chegou a impressionantes R$ 885,800 bilhões.
O rombo do INSS, outra grande pressão fiscal, aumentou de R$ 20,721 bilhões para R$ 21,286 bilhões apenas de outubro para novembro. No acumulado de 12 meses, o déficit da Previdência atingiu R$ 317,864 bilhões. Enquanto isso, a dívida bruta do governo geral, pelo conceito do FMI, chegou a R$ 11.678,721 bilhões.
O mercado de trabalho, por outro lado, apresenta sinais robustos. A taxa de desemprego medida pela PNAD Contínua para os trimestes móveis encerrados entre setembro e novembro ficou em 5,2%, o menor patamar da série histórica iniciada em 2012. O aquecimento do emprego e a inflação em declínio podem levar o Banco Central a adiar a primeira redução da Selic, inicialmente esperada para 28 de janeiro, para 18 de março, aguardando o impacto da isenção de Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil.
O ano de 2025 se encerra, portanto, com um paradoxo: alívio na inflação medida pelo IGP-M, mas tensão no mercado de aluguéis e pressão persistente das contas públicas, mantendo o desafio econômico na pauta do país para 2026.