Juros do crédito atingem 59,4% ao ano e inadimplência das famílias salta para 6,3%
Famílias pagam juros de 59,4% ao ano e inadimplência sobe

As famílias brasileiras estão enfrentando um aperto histórico no bolso devido aos juros estratosféricos cobrados pelos bancos. Dados divulgados pelo Banco Central referentes a novembro de 2025 revelam uma realidade de dois pesos e duas medidas no mercado de crédito: enquanto pessoas físicas pagam taxas exorbitantes, empresas e o governo conseguem condições muito mais favoráveis.

O fosso no custo do crédito: famílias pagam mais que o dobro

O montante total de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou a marca de R$ 20,341 trilhões em novembro, o equivalente a 160,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. No entanto, a distribuição desse endividamento e, principalmente, seu custo, são profundamente desiguais.

As pessoas físicas, que são as que pagam os juros mais caros, deviam R$ 4,707 trilhões (37,2% do PIB). O cenário é preocupante: em outubro, o endividamento das famílias havia atingido 49,7% do PIB, e o comprometimento da renda com dívidas representava 29,4%.

O dado mais chocante, porém, é a taxa de juros. Em novembro, os juros pagos pelas famílias no crédito livre atingiram a média de 59,4% ao ano. Isso representa uma alta de 1,1 ponto percentual frente a outubro (58,5%) e um salto de 6,2 pontos percentuais em relação a novembro de 2024, quando a taxa era de 53,2%.

Em contraste, as pessoas jurídicas, especialmente as grandes empresas com acesso a emissões de ações e crédito internacional, pagaram juros médios de apenas 24,5% ao ano no crédito livre, uma queda de 0,6 ponto percentual em relação a outubro. O governo, por sua vez, é o que paga as taxas mais baixas.

Inadimplência em alta e o "spread" bancário

Com juros tão elevados e novas regras de contabilização de créditos em atraso, a taxa de inadimplência das pessoas físicas deu um salto. Em novembro, ela chegou a 6,3%, um aumento de um ponto percentual frente aos 5,3% registrados em novembro do ano anterior. Já a inadimplência das empresas ficou em 2,9%.

O Banco Central ressalta que, dentro do universo empresarial, as micro e pequenas empresas são as que enfrentam as taxas mais altas e, consequentemente, as maiores taxas de inadimplência. Ainda assim, a média delas fica um ponto percentual abaixo do nível de atraso das pessoas físicas.

Além dos juros elevados, os bancos ampliam a diferença no chamado "spread" – a margem entre o custo de captação e o que é cobrado nos empréstimos. Em novembro, o SFN pagava, em média, 12,5% ao ano às pessoas jurídicas e lhes cobrava 21,2%, com um spread de 8,3 pontos percentuais. Para as pessoas físicas, a remuneração era menor (11,0%) e a média dos juros nos empréstimos era de 34,0%, resultando em uma diferença abissal de 23,0 pontos percentuais.

O contraponto: a economia dos EUA sob Trump

Enquanto o Brasil debate o custo do crédito, os números da economia dos Estados Unidos no terceiro trimestre de 2025, sob a presidência de Donald Trump, trouxeram um misto de alívio e preocupação. O PIB real avançou 4,3% em termos anualizados, acima das expectativas. No entanto, o crescimento médio em 2025 ficou em 2,5% ao ano, abaixo dos 3,2% anuais observados no governo Biden.

O consumo das famílias americanas acelerou, sustentado por serviços e bens, mas evidenciou uma dinâmica "em K": famílias de alta renda, beneficiadas por ganhos patrimoniais, gastam mais, enquanto as de baixa renda enfrentam mercado de trabalho fraco e custo de vida elevado. O investimento empresarial desacelerou, com queda em estruturas, mas com recorde em data centers, reflexo da demanda por infraestrutura de Inteligência Artificial.

O "shutdown" governamental iniciado em 1º de outubro deve reduzir o ritmo da economia no último trimestre, com o Federal Reserve estimando um impacto de -0,2 ponto percentual, mas com expectativa de recuperação em 2026.

Os dados consolidam um cenário de desafios tanto no Brasil, com o aperto financeiro das famílias, quanto nos Estados Unidos, onde o crescimento econômico mostra sinais de desaceleração frente ao período anterior, apesar de alguns setores específicos apresentarem vigor.