Um agente da Polícia Civil do Rio de Janeiro revelou detalhes assustadores do ataque que sofreu durante a megaoperação contra o Comando Vermelho, em outubro. Bernardo Leal foi baleado por um homem que estava disfarçado de policial e que conhecia os códigos internos de identificação da ação nos complexos da Penha e do Alemão.
O momento do ataque e a infiltração
Em entrevista ao programa "Fantástico", Bernardo Leal descreveu o momento do confronto. A equipe policial se deparou com um labirinto de becos durante a investida. Foi quando um homem, vestindo colete e roupa totalmente pretas, idênticas às dos agentes, surgiu. Utilizando senhas e contra-senhas, códigos padrão para identificação em operações, o indivíduo passou pela checagem.
"A gente tinha senha e contra-senha e aí ele falou a senha certa", contou o policial. Apesar do alívio inicial ao ouvir a resposta correta, a situação se transformou em uma armadilha. "Quando deu a contra-senha, fiquei mais tranquilo, corri para o lado. Quando corri para a direita, ele atirou na minha perna", relatou Bernardo.
A luta pela vida e as sequelas
O tiro de fuzil atingiu a perna direita de Bernardo com violência extrema. A bala causou uma fratura no fêmur e rompeu uma artéria e uma veia femoral, provocando uma hemorragia grave. Ao chegar ao hospital, os médicos deram apenas 3% de chance de sobrevivência.
Para controlar a perda de sangue massiva, foi necessária a transfusão de impressionantes 30 bolsas. A gravidade dos ferimentos, no entanto, tornou a amputação da perna inevitável. Bernardo ficou internado por 47 dias e recebeu alta hospitalar há cerca de uma semana. Agora, ele enfrenta o processo de adaptação a uma prótese, que será custeada pelo governo brasileiro.
"Os médicos falavam: 'Bernardo, é um milagre. Nunca vi alguém sobreviver a tiro de fuzil assim'", revelou o agente, que se diz feliz por estar vivo. Sobre o futuro, ele destacou a intenção de voltar ao serviço ativo, mas afastado das operações de rua.
Contexto: A megaoperação mais letal e a origem do CV
A megaoperação que resultou no ferimento de Bernardo Leal entrou para a história do estado do Rio de Janeiro como a mais letal já registrada. A ação, direcionada contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos da Penha e do Alemão, resultou em pelo menos 121 mortes.
O Comando Vermelho é uma das organizações criminosas mais antigas e influentes do Brasil. Sua formação remonta à década de 1970, dentro do Instituto Penal Cândido Mendes, em Ilha Grande. No local, presos comuns e políticos da época da Ditadura Militar conviviam.
Conforme explicou a socióloga Carolina Grillo, da Universidade Federal, o grupo nasceu no coração do sistema prisional. Inicialmente chamado de Falange da Segurança Nacional e depois Falange Vermelha, foi a imprensa que posteriormente cunhou o nome "Comando Vermelho". Um de seus fundadores, William da Silva Lima, o "Professor", idealizou a organização como uma forma de combater a tortura e os maus-tratos nas prisões, impondo regras de convivência entre os detentos.