Áudios revelam conversas calmas antes da queda do voo 2283 da Voepass em Vinhedo
Áudios inéditos mostram últimos minutos do voo 2283

Novos áudios obtidos pelo g1 revelam os últimos diálogos entre os pilotos do voo 2283 da Voepass e o controle de tráfego aéreo, minutos antes da queda da aeronave em Vinhedo, no interior de São Paulo, em agosto de 2024. As gravações, divulgadas um ano após a tragédia, mostram uma comunicação rotineira e tranquila, sem qualquer indicação de pane ou emergência por parte da tripulação.

O que revelam os áudios inéditos

O material, cruzado com dados das caixas-pretas, detalha a sequência de instruções trocadas entre 13h14 e 13h19 do dia do acidente. A comunicação seguiu o padrão esperado para uma aproximação de pouso no Aeroporto de Guarulhos. Os pilotos confirmavam mudanças de frequência, mantinham a altitude solicitada e informaram estar no ponto ideal para iniciar a descida.

Em um dos trechos, às 13h18min21s, o piloto comunica: “Ponto ideal de descida, o Passaredo 2283”. O controle responde instruindo para manter o nível de voo 170 (cerca de 5 mil metros de altitude), ordem que foi prontamente acatada pela tripulação. A última mensagem disponível nessa série de áudios ocorre às 13h18min53s, quando o controle orienta uma nova mudança de frequência.

A contradição silenciosa na cabine

Enquanto a comunicação com a torre transcorria normalmente, a situação dentro da cabine de comando era crítica. O relatório preliminar do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) aponta que alertas luminosos e sonoros relacionados à formação de gelo e à perda de velocidade já soavam no painel do ATR 72-500.

Segundo a investigação, por volta das 13h18min41s – pouco depois da última comunicação registrada nos áudios divulgados –, a aeronave desacelerou para 353 km/h, acionando o alerta “CRUISE SPEED LOW”. Menos de um minuto depois, a velocidade caiu para 340 km/h, ativando o alarme mais grave de “DEGRADED PERFORMANCE”, indicando que o acúmulo de gelo já degradava severamente a performance do avião.

Apesar dos alertas, os pilotos não relataram a situação ao controle aéreo. O copiloto chegou a comentar “bastante gelo” por volta das 13h20, e o sistema de degelo foi acionado apenas cinco segundos depois. O controle da aeronave foi perdido às 13h21min09s, culminando na colisão com o solo no condomínio Residencial Recanto Florido, em Vinhedo, um minuto e vinte e um segundos depois.

Relatos de gelo na região e o acidente

Os áudios obtidos pela reportagem também mostram que outros pilotos relataram condições similares naquele dia. Cerca de sete minutos antes da queda do voo 2283, a tripulação do voo TAM 3361 informou ao controle aéreo a ocorrência de “gelo moderado” próximo à região de Viracopos. Minutos após o acidente, outras duas aeronaves também reportaram formação de gelo na área.

O acidente, que tirou a vida das 62 pessoas a bordo (58 passageiros e 4 tripulantes), é investigado pelo Cenipa. O órgão destacou como linhas de ação a averiguação dos sistemas de degelo da aeronave e a análise do desempenho técnico da tripulação. A Voepass, em nota, classificou o episódio como o mais difícil de sua história, reiterando seu compromisso com a segurança e o apoio às famílias das vítimas. O relatório final da investigação é aguardado para o fim de 2025.