Uma tendência que ganha força no setor de hospitalidade está transformando a experiência de viagem no interior de São Paulo. O Circuito das Águas Paulista, região turística próxima a Campinas, tem se tornado um destino preferencial para mulheres que viajam sozinhas ou em grupos, atraídas pela busca por acolhimento, segurança e autonomia.
Atendimento humanizado como diferencial competitivo
Para atender a essa demanda específica, estabelecimentos têm adaptado seus serviços. Em Socorro, uma pousada investiu na formação de uma equipe predominantemente feminina, apontada como um diferencial estratégico. Segundo a gestora Jéssica Bonfá, essa escolha parte da percepção de um cuidado natural no acolhimento.
"A mulher tem um cuidado no acolhimento, consegue perceber o que o hóspede precisa e atender de forma gentil", afirma Bonfá. Ela destaca que o olhar atento da equipe ajuda a identificar rapidamente as necessidades das hóspedes, criando um ambiente onde se sentem seguras e compreendidas.
Viagem como caminho para superação e nova autonomia
Para muitas viajantes, a experiência no Circuito das Águas vai além do simples lazer, representando um processo de redescoberta pessoal. A aposentada Rosina Gonçalves, de 85 anos, é um exemplo. Ela começou a viajar após ficar viúva, em 2008, e desde então transformou a prática em um hábito libertador.
"Desde então, passou a celebrar o Ano Novo fora de casa, fez cruzeiros e viajou duas vezes para Portugal", conta. Para o último Réveillon, ela escolheu justamente o Circuito das Águas Paulista como destino.
Uma história de resiliência semelhante é a de Lúcia Nunes, de 80 anos. Após a morte do marido, ela encontrou nas viagens uma forma de enfrentar a depressão. Incentivada pela psicóloga, deu o primeiro passo ainda receosa, levando uma grande quantidade de remédios. Hoje, essa necessidade já não faz mais parte de sua rotina.
"Depois que comecei a viajar, nunca mais tive problema", relata Lúcia, mostrando como a experiência turística se tornou terapêutica.
Demanda consolidada e experiências regionais únicas
O fenômeno é tão expressivo que o Circuito das Águas agora integra roteiros de agências especializadas em turismo feminino. A agente Denise Trein, que organiza grupos exclusivos de mulheres, confirma que o setor desenvolve um cuidado especial com esse público.
No último Réveillon, um grupo com 29 mulheres escolheu a região para a virada do ano. A programação incluiu não apenas as tradicionais estâncias hidrominerais, mas também vivências gastronômicas e culturais, como visita a sorveterias artesanais e outros atrativos locais.
A administradora Maraísa, moradora de Piracicaba (SP), viajou sozinha pelo país durante seis meses e notou uma diferença marcante na hospitalidade do interior paulista. "Quando eu dizia que estava sozinha, as pessoas tinham um cuidado maior. Aqui, perguntam todos os dias se está tudo bem no quarto", compara.
Outro caso é o de Maria José, que após um divórcio decidiu não mais adiar seus planos e passou o Réveillon sozinha no Circuito das Águas. "Estou em paz, feliz. Agora que eu sei o caminho, não vou parar mais", declara, simbolizando a autonomia conquistada por meio das viagens.
A tendência do turismo solo feminino demonstra uma mudança significativa no perfil do viajante brasileiro e na forma como a indústria do turismo precisa se adaptar para oferecer não apenas serviços, mas experiências significativas, seguras e acolhedoras.