Um novo levantamento do Instituto Pereira Passos oferece um retrato detalhado e cheio de contrastes da população do município do Rio de Janeiro em 2024. O estudo, que funciona como um raio-x da cidade, revela desde uma queda significativa no número de nascimentos até as profundas disparidades na distribuição etária e de renda entre os bairros.
Queda de nascimentos e mapa da infância e da velhice
Em 2024, nasceram 163 mil cariocas, um número que representa 12 mil bebês a menos em comparação com o ano anterior. Essa redução de 7% no total de nascimentos é um dos dados de destaque da pesquisa.
O mapa da primeira infância na cidade é dominado pela Zona Oeste. Bairros extremamente populosos, como Campo Grande e Santa Cruz, concentram entre 15 mil e 19 mil crianças de até quatro anos de idade. Este cenário muda radicalmente ao se observar a Zona Sul. Em bairros como Leblon, Ipanema e Lagoa, o número máximo de crianças nessa mesma faixa etária não passa de 1,5 mil.
Já quando o foco se volta para a população idosa, outros bairros surgem no topo da lista. Copacabana, Tijuca e Barra da Tijuca aparecem como as regiões com a maior concentração de pessoas com mais de 70 anos.
Desigualdade de renda em evidência
O estudo também coloca em números a desigualdade econômica que marca a geografia carioca. Uma faixa litorânea privilegiada, que inclui bairros da Zona Sul e da Zona Oeste (como a Barra da Tijuca), agrupa os maiores rendimentos domiciliares, que variam entre R$ 7,5 mil e R$ 18,1 mil mensais.
Jardim Guanabara, na Ilha do Governador, e Campo dos Afonsos, na Zona Norte, também figuram entre as áreas com os melhores índices de renda por domicílio.
No extremo oposto, grandes extensões da Zona Oeste registram um rendimento médio familiar de até R$ 3 mil. Situação ainda mais crítica é encontrada em bairros da Zona Norte, como Acari e Costa Barros, onde a renda média não ultrapassa R$ 1,5 mil.
Qualidade de vida e os desafios das favelas
Outros dados, divulgados pelo IBGE em novembro e citados no contexto, complementam o quadro dos desafios urbanos. Eles mostram que 34% dos moradores de favelas no Rio vivem em locais inacessíveis para carros ou ônibus – um percentual bem acima da média nacional, que é de 19%.
Um exemplo emblemático é a Rocinha, onde 81,9% das vias não permitem a circulação de veículos de quatro rodas.
A carência de infraestrutura verde também é um problema grave que impacta diretamente a qualidade de vida. Em Rio das Pedras, na Zona Sudoeste, 95% das ruas não têm árvores. Em comunidades como o Morro da Coroa e o Cantagalo, a ausência é total: 100% das ruas não oferecem sombra alguma.
Dados como base para políticas públicas
Para a urbanista Marcela Abla, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no Rio (IAB-RJ), informações como essas são fundamentais. Ela destaca que os dados permitem compreender a vida urbana de forma transversal, dialogando com áreas essenciais como saúde, educação, mobilidade, transporte, habitação e desenvolvimento urbano.
“Não devem ser vistos apenas como diagnóstico técnico, mas alinhados ao plano diretor recém-aprovado”, afirma a especialista. Marcela cita iniciativas como o Parque de Realengo como exemplos positivos que ajudam a reduzir ilhas de calor e melhorar o bem-estar da população.
“É preciso pensar em grandes parques, mas também em pequenos jardins e praças de convívio, que diminuam as altas temperaturas e ampliem a qualidade de vida”, conclui, defendendo uma abordagem multiescalar para os desafios urbanos.