O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, desembarcou na Flórida para um encontro crucial com o presidente americano, Donald Trump, nesta segunda-feira (29 de dezembro de 2025). A reunião acontece na propriedade de Mar-a-Lago, em um momento de crescente tensão internacional sobre os rumos do conflito no Oriente Médio e com Washington demonstrando sinais claros de impaciência.
O impasse em Gaza e a pressão americana
No centro das discussões está o frágil cessar-fogo na Faixa de Gaza, estabelecido em outubro de 2025, que pôs fim a dois anos de guerra devastadora. Embora a primeira fase do acordo tenha sido cumprida – com a retirada parcial de tropas israelenses e a liberação de reféns pelo Hamas –, a implementação da segunda etapa está paralisada.
Os principais pontos de atrito são conhecidos: Israel resiste a retirar suas forças de aproximadamente 53% do território de Gaza que ainda controla e mantém restrições à entrada de ajuda humanitária. Por outro lado, o grupo Hamas evita assumir um compromisso formal de desarmamento e já reconquistou autoridade em áreas densamente povoadas do enclave.
Integrantes do alto escalão do governo Trump têm expressado frustração com Netanyahu, acusando-o de minar o acordo. Analistas em Israel e nos Estados Unidos concordam que a paciência de Washington está no limite. O custo humano permanece assombroso: mais de 70 mil palestinos morreram na guerra, a maioria civis, e quase toda a população de 2,3 milhões foi deslocada.
Risco de uma escalada regional ampliada
Além do impasse em Gaza, a comunidade internacional observa com apreensão a possibilidade de Israel expandir suas operações militares para outras frentes. Há um temor real de que o país retome ofensivas contra o Hezbollah no sul do Líbano, rompendo um cessar-fogo que vigora há mais de um ano.
Outro ponto crítico é o confronto indireto com o Irã. O governo israelense acusa Teerã de acelerar a produção de mísseis balísticos e de tentar recuperar os danos sofridos por seu programa nuclear. Em um discurso inflamado no sábado, o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, afirmou que o país vive uma "guerra em escala total" contra EUA, Israel e Europa, considerando-a mais complexa que o conflito com o Iraque nos anos 1980.
Neste contexto, Netanyahu deve pressionar Trump por duas garantias fundamentais: manter o aval americano para ações preventivas contra o Irã e assegurar a superioridade militar israelense na região. Autoridades em Tel Aviv ficaram alarmadas com a declaração recente de Trump sobre considerar autorizar a venda de caças de última geração F-35 à Arábia Saudita, o que poderia reduzir a vantagem tecnológica de Israel.
Plano para o pós-guerra e pressões internas
O plano de paz americano, com suas 20 etapas, prevê que Gaza seja administrada no futuro por uma autoridade interina formada por tecnocratas palestinos não alinhados a facções armadas, com o apoio de uma força internacional de estabilização. Autoridades dos EUA indicam que a composição desse governo provisório pode ser anunciada já em janeiro.
Enquanto tenta navegar pela complexa geopolítica regional, Netanyahu enfrenta também uma tempestade política doméstica. Eleições devem ocorrer em até dez meses, e pesquisas mostram que sua atual coalizão teria dificuldade para se manter no poder. A insatisfação popular cresce devido às falhas de segurança que antecederam o ataque do Hamas em 2023, às isenções ao serviço militar para judeus ultraortodoxos e a sucessivos escândalos políticos.
Esta é a quinta visita de Netanyahu aos Estados Unidos apenas em 2025, um sinal da urgência dos temas em pauta. O resultado do encontro em Mar-a-Lago pode definir se o frágil cessar-fogo em Gaza se transformará em uma paz duradoura ou se será o prelúdio de uma nova e mais ampla guerra no Oriente Médio.