A Arábia Saudita realizou um ataque aéreo contra o porto de Mukalla, no Iêmen, na terça-feira. A ação foi uma resposta direta à chegada de um carregamento de armas, proveniente dos Emirados Árabes Unidos, destinado a forças separatistas locais. Este bombardeio marca uma nova e perigosa escalada nas tensões entre antigos aliados na complexa guerra iemenita.
O ataque e a justificativa saudita
Segundo um comunicado militar divulgado pela agência de notícias estatal da Arábia Saudita, a Força Aérea da Coalizão executou um ataque aéreo limitado na manhã de terça-feira. O alvo foram armas e veículos militares que haviam sido descarregados de dois navios no porto de Mukalla.
O comunicado alegou que os navios, vindos de Fujairah, nos Emirados Árabes Unidos, desativaram seus dispositivos de rastreamento antes de descarregar o material bélico em apoio ao Conselho de Transição do Sul (CTS), grupo separatista apoiado pelos Emirados. As armas foram classificadas como uma ameaça iminente à paz e à estabilidade da região.
Os militares sauditas afirmaram que o ataque foi realizado durante a noite para minimizar danos colaterais. Não ficou imediatamente claro se houve vítimas. Os Emirados Árabes Unidos não comentaram o caso inicialmente.
Contexto de uma aliança fraturada
Este incidente expõe publicamente a profunda fissura entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, dois países que, apesar de serem aliados formais e membros da OPEP, têm apoiado lados opostos dentro da coalizão anti-Houthi no Iêmen.
Enquanto Riad apoia o governo internacionalmente reconhecido, Abu Dhabi fornece suporte ao Conselho de Transição do Sul, que busca a secessão do sul do Iêmen. Nos últimos dias, o CTS consolidou seu controle sobre a província de Hadramout, expulsando forças afiliadas ao Escudo Nacional, grupo apoiado pelos sauditas.
O ataque a Mukalla ocorre apenas três dias após outro bombardeio saudita contra posições do CTS, na sexta-feira, visto por analistas como um aviso para conter o avanço separatista.
Reações e consequências imediatas
Em resposta à crescente instabilidade, as forças anti-Houthis no Iêmen declararam estado de emergência. Foi imposta uma proibição de 72 horas para todas as travessias de fronteira, além da entrada em aeroportos e portos marítimos em território sob seu controle, exceto para aqueles autorizados pela Arábia Saudita.
Mohammed al-Basha, especialista em Iêmen, previu uma escalada calculada de ambos os lados. "O Conselho de Transição do Sul, apoiado pelos Emirados Árabes Unidos, provavelmente responderá consolidando o controle", disse. "Ao mesmo tempo, o fluxo de armas dos Emirados para o CTS deverá ser reduzido após o ataque ao porto, principalmente porque a Arábia Saudita controla o espaço aéreo."
Cenário regional ampliado de instabilidade
A crise no Iêmen se desenrola em meio a um momento de grande instabilidade em toda a região do Mar Vermelho. A violência também escalou no Sudão, onde sauditas e emiradenses apoiam facções rivais em guerra.
Paralelamente, o reconhecimento por parte de Israel da Somalilândia como nação independente gerou preocupação entre os Houthis, que ameaçaram atacar qualquer presença israelense naquela região. Esses movimentos indicam um reordenamento geopolítico tenso que vai muito além das fronteiras do Iêmen.
O ataque em Mukalla, portanto, não é um evento isolado. Ele simboliza o colapso de uma aliança crucial e acende um novo foco de conflito dentro da já devastadora guerra civil iemenita, com potencial para desestabilizar ainda mais uma das rotas marítimas mais importantes do mundo.