O setor de hospedagem para animais de estimação está em plena expansão nas cidades de Campinas e Piracicaba, no interior de São Paulo, impulsionado principalmente por microempreendedores individuais (MEIs). Dados do Sebrae referentes a dezembro revelam que a região concentra 363 estabelecimentos do tipo, sendo que a esmagadora maioria, 289 negócios, é gerida por MEIs. Esse número representa 79,6% do total de creches e hotéis para pets na área.
O perfil do setor e as cidades líderes
Além dos 289 MEIs, o levantamento baseado em informações da Receita Federal aponta a existência de 69 microempresas (ME), correspondendo a 19% do mercado, e apenas quatro empresas de pequeno porte (EPP). A cidade de Campinas lidera o ranking com 104 empresas registradas, seguida por Piracicaba (39), Indaiatuba (36) e Limeira (27). Especialistas atribuem esse crescimento a mudanças nos hábitos de consumo, à retomada econômica pós-pandemia e à busca por fontes de renda própria.
Mudanças sociais e o vínculo afetivo com os pets
Cláudia Mouro, consultora do Sebrae com 31 anos de experiência, destaca que a expansão das creches e hotéis para cães em Campinas é um reflexo de transformações sociais, emocionais e econômicas. “As famílias são menores, muitas têm filhos ou têm menos filhos. Então, a gente acaba trazendo outras ‘pessoinhas’ pra nossa vida, criando vínculo afetivo", explica. Para ela, o diferencial competitivo no mercado atual vai além da simples hospedagem, residindo na capacidade de oferecer segurança, responsabilidade e afinidade com os animais.
Mouro também alerta para os desafios de gestão, especialmente na área financeira. “A formação de preços, inclusive, é um dos principais obstáculos enfrentados pelos empreendedores. Dentro do preço tem os custos de locação, compra de produtos, água, luz, funcionário. Como juntar tudo isso e ainda deixar o preço competitivo no mercado é um desafio enorme”, ressalta.
Experiência prática e a busca por profissionalização
O Recanto dos Pets, localizado no Jardim Guanabara em Campinas, é um exemplo dessa trajetória. Começou de forma informal em 2017 e, com o aumento da demanda, principalmente após a pandemia de Covid-19, estruturou-se em um espaço próprio. Marcelo Augusto dos Santos, fundador do estabelecimento, observa: “Muita gente passou a buscar serviços especializados. Quem não se profissionalizou, acabou ficando para trás”. Ele defende normas mais objetivas do poder público para o setor, já que, segundo ele, a falta de regulamentação clara permite que muitas creches funcionem irregularmente.
Camila Akemi Mizuno, fundadora do Pet Mizuno no bairro do Cambuí, enfatiza a importância do conhecimento técnico aliado à paixão pelos animais. “Tenho uma carteira de clientes fiéis, onde os cãozinhos vão passear na rua e querem vir aqui dar um bom dia para mim. Isso, sim, é meu melhor feedback [...] Tem que ter amor em primeiro lugar", afirma.
Rotina e bem-estar como prioridade
No Recanto dos Pets, a rotina é considerada fundamental para o bem-estar animal. As atividades são planejadas, com horários regulares, momentos de descanso e monitoramento contínuo para reduzir o estresse e evitar conflitos. “O principal para uma creche é a rotina. O animal tem que saber o que ele vai esperar. Se cada dia você faz algo diferente, o cachorro fica um pouco ansioso”, detalha Marcelo. Os cães ficam soltos e são separados apenas na hora da alimentação, quando o risco de briga é maior.
Para tutores como a arquiteta Rejane Barbato, esses espaços são sinônimo de tranquilidade, especialmente em épocas como o fim de ano. "Todo tutor sente um aperto no coração quando vai viajar sem o seu pet. A preocupação de onde e com quem deixar é grande. Tudo o que se quer é que seu companheiro fique bem, física e emocionalmente", comenta, lembrando da importância de um local seguro durante os fogos de artifício.
O cenário mostra um mercado em ascensão, movido pelo afeto aos animais e pela força dos pequenos empreendedores, que encontraram na paixão por pets uma oportunidade de negócio e de reforço para a economia local.