EUA adiam tarifas sobre chips chineses até 2027, mas acusam práticas desleais
EUA adiam tarifas sobre chips chineses até 2027

O governo dos Estados Unidos decidiu adiar a imposição de novas tarifas sobre semicondutores chineses até, pelo menos, junho de 2027. A medida ocorre apesar de um relatório oficial americano ter acusado a China de utilizar práticas comerciais desleais para dominar a estratégica indústria global de chips.

Acusações e a decisão de postergar

Um documento divulgado pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA, resultado de uma investigação iniciada na era Biden, sustenta que Pequim emprega uma série de mecanismos para distorcer o mercado. Segundo Washington, o avanço chinês se baseia em subsídios estatais persistentes, restrições de acesso ao mercado, transferência forçada de tecnologia e fragilidades na proteção de propriedade intelectual.

O relatório argumenta que essas ações criam dependências estratégicas na cadeia global de semicondutores, que poderiam ser usadas como instrumento de pressão econômica. Apesar do tom firme, a administração do presidente Donald Trump optou por não impor retaliações imediatas.

O texto estabelece que eventuais sobretaxas só poderão entrar em vigor a partir de 23 de junho de 2027, com as alíquotas sendo definidas pouco antes dessa data. Até lá, permanecem em vigor as tarifas já existentes entre as duas nações.

Contexto de uma trégua frágil

A decisão de postergar novas barreiras comerciais surge em um momento delicado nas relações bilaterais. Espera-se um encontro entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping, nos próximos meses, possivelmente em Pequim.

O anúncio também encerra um ano de fortes turbulências nos mercados internacionais, marcado por uma escalada tarifária recorde. No auge do conflito, os dois países elevaram tarifas a patamares próximos de 145%, com a China retaliando com restrições à exportação de terras raras, materiais vitais para indústrias como a de defesa e a de veículos elétricos.

Uma trégua foi negociada após uma reunião entre os mandatários na Coreia do Sul, em outubro, que levou ao alívio de parte das restrições. A postergação das tarifas sobre chips é vista como uma tentativa de preservar essa frágil calmaria.

Estratégia entre o protecionismo e a pragmática

Analistas interpretam a medida como um equilíbrio entre o discurso protecionista do governo Trump e a preocupação prática com a economia. Ao adiar sanções, Washington evita novos choques inflacionários e turbulências financeiras no curto prazo, mantendo a pressão sobre a China.

Paralelamente, a Casa Branca mantém uma investigação separada com base em argumentos de segurança nacional, que pode resultar em novas barreiras à importação de semicondutores. Além disso, Trump tem mencionado publicamente a possibilidade de impor tarifas de até 100% sobre chips importados, especialmente para forçar empresas a produzirem em solo americano.

A estratégia final parece clara: preservar margem para negociação com Pequim enquanto sinaliza que o setor de semicondutores é considerado central para a segurança econômica e tecnológica dos Estados Unidos. O setor aguarda agora os desdobramentos da possível reunião entre os líderes e os resultados da investigação de segurança nacional.