O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, nesta terça-feira (23), a prévia oficial da inflação para o mês de dezembro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrou uma variação de 0,25% no último mês do ano.
O resultado ficou um pouco acima do verificado em novembro, que foi de 0,20%, mas significativamente abaixo dos índices de dezembro de 2024, quando o IPCA-15 marcou 0,34% e o IPCA cheio, 0,52%. Com esse desempenho, a inflação acumulada nos últimos 12 meses caiu para 4,41%.
Essa trajetória indica que o ano de 2025 deve ser encerrado com um índice abaixo do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 4,50%. A análise dos dados, porém, revela um cenário heterogêneo, com pressões específicas em setores como transportes e serviços, enquanto alguns alimentos apresentam alívio.
Comportamento dos preços por setor
Um dos pontos positivos do relatório veio do grupo de Alimentos e Bebidas. Apesar da tradicional alta na demanda no período de Natal e Ano Novo, os preços neste segmento subiram abaixo da inflação geral, com alta de 3,57% no ano. Arroz e soja se destacaram com quedas expressivas, puxando uma deflação de 22,79% no subgrupo de cereais e leguminosas.
O café, que havia registrado aumentos superiores a 80% no ano anterior, desacelerou em 2025. A carne bovina, por sua vez, sentiu a pressão de fim de ano e a expectativa de mudanças no mercado internacional, subindo 1,54% em dezembro e acumulando alta de 2,09% no ano.
Por outro lado, alguns itens seguem preocupantes. O óleo de soja, impactado por um ano de forte exportação de grãos, apresenta alta acumulada de 13,52%. Outro destaque negativo foi a Alimentação Fora do Domicílio, que acumulou um aumento de 7,81% no ano, levantando questionamentos sobre uma possível incorporação dos reajustes de aplicativos de delivery.
Transportes e serviços lideram pressão inflacionária
O grande vilão da prévia de dezembro foi o grupo de Transportes. Os transportes por aplicativo, como Uber e 99, tiveram um aumento de 9,00% no período de apuração (de 16 de novembro a meados de dezembro), contribuindo com 0,2 pontos percentuais para o IPCA-15 do mês.
O item de maior alta individual, no entanto, foram as passagens aéreas, que dispararam 12,71%. Este foi o produto com maior variação entre os 377 pesquisados mensalmente pelo IBGE. Especialistas apontam que a volatilidade extrema neste setor ao longo do ano – com altas de dois dígitos seguidas por quedas pela metade – é uma distorção causada pelo oligopólio no setor aéreo brasileiro, dominado por Gol, Latam e Azul.
Essa concentração, aliada a dificuldades financeiras das companhias, gera impactos diretos no turismo. A discussão sobre a concentração de voos no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, em detrimento do Tom Jobim (Galeão), é citada como um exemplo de como decisões do setor podem prejudicar um destino turístico tradicional.
Indexação e serviços essenciais mantêm inércia
Além da especulação em setores pontuais, a inflação brasileira ainda sofre com o alto grau de indexação na economia. Itens cujos preços são tradicionalmente reajustados com base em índices passados seguem pressionando o orçamento das famílias.
O maior peso individual sobre a inflação do ano veio da energia elétrica residencial, que subiu 11,95%. Planos de saúde ficaram 6,43% mais caros, com ajuda dos custos com médicos (+7,31%) e medicamentos (+5,83%). Aluguéis e taxas condominiais aumentaram 5,40%.
A Educação, sujeita a reajustes sazonais no início do ano letivo e no meio do ano, acumulou alta de 6,26%, com cursos regulares ficando 6,53% mais caros. O Vestuário também subiu acima da inflação geral (5,34%), com roupas masculinas tendo alta de 5,77%.
Esses dados deixam claro que, enquanto persistir essa forte indexação, a política monetária do Banco Central enfrenta limitações naturais para controlar a inflação de forma ampla e perene, exigindo também ações em outras frentes da economia.