O setor produtivo de alho no Brasil enfrenta um momento de tensão e desafios devido ao aumento significativo das importações do produto originário da China. A concorrência com o alho chinês, que chega ao mercado nacional a preços mais baixos, tem pressionado os agricultores locais, dificultando a comercialização da produção doméstica.
Crescimento nacional e pressão das importações
Em entrevista ao Record News Rural, o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa), Rafael Corsino, traçou um panorama da situação. Ele destacou que, nos últimos 10 anos, o Brasil conseguiu ampliar sua participação no mercado interno, investindo em uma produtividade sustentável que prioriza a saúde do consumidor e a proteção ambiental.
"A cultura do alho vem com os produtores investindo muito, respeitando as leis trabalhistas, e hoje conseguimos ocupar uma importante parcela de abastecimento do Brasil", afirmou Corsino. Segundo ele, esse avanço foi possível graças ao aumento da competitividade e à melhoria técnica dos produtores, que incluem desde a agricultura familiar até os pequenos e médios agricultores.
Atualmente, o Brasil produz cerca de 60% do alho consumido internamente. O estado de Minas Gerais lidera a produção nacional, seguido por Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No entanto, o fluxo de importações, principalmente da China, tem criado um obstáculo, retardando a compra do alho brasileiro, especialmente no período de safra, conhecido como "serrado".
Volume de importações preocupa o setor
A situação se agravou com uma sinalização de importação em grande escala para o corrente ano. De acordo com Rafael Corsino, estão previstas cerca de 15 milhões de faixas de alho importadas, sendo 7 milhões da China e 8 milhões da Argentina.
O especialista faz um alerta: "Em função do crescimento da importação do alho chinês esse ano, se comparar com o ano de 2024, aumentou praticamente 3 milhões de faixa de alho. Isso colocou o setor com muita dificuldade". Este incremento repentino no volume de alho estrangeiro no mercado brasileiro representa uma ameaça concreta à rentabilidade e à sustentabilidade da cadeia produtiva nacional.
As diferenças marcantes: sabor, aroma e saúde
O presidente da Anapa não se limita a analisar os números; ele aponta as características que diferenciam claramente o produto nacional do importado. A primeira distinção é visual. "O nosso alho, quando você tira aquelas cascas do alho, e você chega no dente do alho, você vai ver a cor do dente, o alho roxinho ou arroxeado, esse é alho brasileiro", explica Corsino. Já o alho chinês tende a apresentar uma coloração "castanho ou marrom".
Mas a diferença mais significativa está nas propriedades. Segundo o especialista, o alho brasileiro é 5 vezes mais potente e possui 5 vezes mais sabor e aroma em comparação com o alho chinês. Além das qualidades sensoriais, Corsino ressalta os benefícios à saúde associados ao produto nacional: "ele combate câncer, combate colesterol e dá resistência e imunidade ao nosso corpo".
Esta potência superior está diretamente ligada às condições de cultivo, aos solos e ao manejo sustentável adotado pelos produtores brasileiros, que buscam não apenas volume, mas qualidade e valor agregado.
O cenário atual coloca em evidência um conflito entre o preço baixo das importações e a qualidade e os benefícios socioambientais da produção local. Enquanto o consumidor pode ser atraído pelo custo reduzido, a escolha pelo alho nacional representa um apoio à agricultura sustentável do país, à geração de emprego no campo e ao consumo de um alimento com maior poder nutricional e medicinal.