O universo do samba, com suas histórias de vida, paixões e personagens anônimos, ganha um novo capítulo literário pelas mãos de um de seus mais experientes compositores. José Leonídio Pereira, de 77 anos, acaba de lançar o livro 'Eu sou do samba', uma coletânea que reúne vinte crônicas e contos baseados em experiências reais vividas ao som do ritmo mais brasileiro.
Das arquibancadas para as páginas: histórias que marcaram um sambista
Com uma trajetória que começou em 1984, José Leonídio já escreveu mais de 25 sambas-enredo para diversas escolas de samba. Agora, ele canaliza toda essa vivência para a literatura. A obra, lançada em 21 de dezembro de 2025, é um mergulho afetivo no cotidiano das comunidades do samba.
Os textos foram inspirados em momentos que marcaram profundamente o autor durante sua imersão no mundo das escolas de samba. Rainhas de bateria e ritmistas são algumas das figuras que povoam as narrativas, sempre mantidas no anonimato por uma questão de respeito. "Omitir os personagens, acho que é uma questão de respeito. Coloco os participantes, eles estão ali, vivos e presentes. Eternizo os personagens do samba, é isso que tentei fazer", explica o sambista-escritor.
Do luto ao amor: a conexão íntima com o ritmo
O livro abre com o conto "Poeta das Calçadas", que narra a história de um compositor que, após perder a esposa, busca refúgio no álcool para lidar com o luto. Já o encerramento é dedicado a uma homenagem ao surdo, instrumento fundamental na batida do samba.
"Essa história fala sobre um menino que começa a pensar que conhecia o som do surdo desde a barriga da mãe. Ele, enquanto toca e ouve, percebe que o som é parecido com o do coração da mãe. E essa conexão, desde o útero, é explorada ao longo do conto", detalha José Leonídio sobre a narrativa que simboliza a ligação orgânica e ancestral com o ritmo.
Um legado para a cultura carioca e brasileira
Mais do que entreter, 'Eu sou do samba' tem um propósito claro: contar a história do gênero e detalhar um dos maiores patrimônios imateriais do Brasil. Para o autor, é crucial ressignificar a imagem do sambista perante a sociedade.
"Quis mostrar que ser sambista não é ser fora da lei, uma pessoa ruim ou qualquer maneira que sempre caracterizaram. É ter um coração, é gostar do samba, é ter uma alma e é ser carioca", finaliza Pereira, defendendo a nobreza e a profundidade cultural daqueles que vivem e perpetuam essa tradição.
A publicação se apresenta, portanto, como um documento afetivo e um ato de resistência cultural, eternizando em palavras a batida do coração do Rio de Janeiro e a alma de seus personagens mais genuínos.