O ano de 2025 entrou para a história da cultura brasileira com um marco inédito e há muito aguardado. A renomada escritora Ana Maria Gonçalves foi oficialmente empossada na Academia Brasileira de Letras (ABL), quebrando uma barreira secular. Pela primeira vez em seus 128 anos de existência, a instituição recebeu uma mulher negra como imortal, um momento de profunda ressignificação para as letras nacionais.
Um marco histórico e cultural
O fato histórico foi celebrado e revisitado no podcast O Assunto, do g1, que reprisou no dia 30 de dezembro uma conversa especial. A apresentadora Natuza Nery entrevistou Ana Maria Gonçalves poucos dias antes da cerimônia de posse na ABL. Na ocasião, a autora refletiu sobre a importância desse passo e discutiu o lugar da mulher negra na literatura brasileira, um tema central em sua obra.
Ana Maria Gonçalves chegou à Academia após uma eleição que contou com 30 votos, consolidando seu lugar entre os maiores nomes da intelectualidade do país. Sua principal obra, o romance "Um Defeito de Cor", publicado em 2006, é considerado um marco da cultura contemporânea brasileira. O livro, que conquistou o prestigiado Prêmio Casa de las Américas em 2007, narra a saga de Kehinde, uma mulher africana que sobrevive à travessia do Atlântico e aos horrores da escravidão no Brasil.
Da literatura ao carnaval: a jornada de Kehinde
A protagonista Kehinde foi inspirada na vida de Luísa Mahin, figura histórica e mãe do poeta e abolicionista Luiz Gama. Durante a entrevista, Ana Maria detalhou o processo de construção dessa personagem tão poderosa e sua ligação com a história real de resistência. A relevância da obra transcendeu as páginas dos livros e ecoou na avenida: em 2024, "Um Defeito de Cor" foi o enredo da escola de samba Portela no Carnaval carioca, levando a narrativa para milhões de pessoas.
O episódio do podcast O Assunto enriqueceu a discussão com interpretações de trechos do livro. A jornalista Maju Coutinho e o ator Lázaro Ramos emprestaram suas vozes para a leitura de passagens da obra. Ramos também deu vida a estrofes do poema "Minha Mãe", de Luiz Gama, e a cartas escritas pelo autor abolicionista, criando uma ponte emocionante entre a ficção e a história.
Reflexões sobre o Brasil ontem e hoje
Na conversa com Natuza Nery, Ana Maria Gonçalves também traçou um paralelo entre o Brasil de 2006, ano do lançamento de seu romance, e o país atual. Ela refletiu sobre as mudanças e permanências nas discussões sobre raça, gênero e representatividade, temas que sua obra aborda com profundidade e que a levaram a esse lugar de destaque inédito.
O podcast O Assunto, que produziu o episódio, é um sucesso de audiência. Desde sua estreia em agosto de 2019, acumula mais de 168 milhões de downloads em todas as plataformas de áudio. No YouTube, o programa diário do g1 já superou a marca de 14,2 milhões de visualizações, consolidando-se como uma fonte essencial de informação e análise para o público brasileiro.
A posse de Ana Maria Gonçalves na ABL não é apenas uma conquista pessoal, mas um símbolo potente de inclusão e reconhecimento. Após 128 anos, a Academia Brasileira de Letras finalmente vê uma mulher negra ocupar uma de suas cadeiras, abrindo caminho para que novas vozes e narrativas sejam eternizadas na história literária do Brasil.