O filme "Anaconda", sexta parcela de uma franquia que só teve qualidade real em sua origem, em 1997, chega aos cinemas do Brasil nesta quinta-feira, 25, com um diferencial inesperado. A presença do ator brasileiro Selton Mello, iniciando sua carreira em Hollywood após o sucesso mundial de "Ainda Estou Aqui", promete mudar a recepção da obra no país.
Uma franquia decadente e uma nova esperança
A notícia de que Selton Mello havia assinado contrato para integrar o elenco de um novo "Anaconda" causou apreensão inicial entre seus fãs. Afinal, a série sobre a cobra gigante da Amazônia é conhecida por produções cada vez piores, relegada a um universo de filmes B. No entanto, a perspectiva mudou com a confirmação de nomes como Jack Black e, posteriormente, Paul Rudd no projeto, sugerindo um trabalho mais caprichado da Sony Pictures.
A trama acompanha Doug, um diretor de cinema frustrado vivido por Jack Black, que ganha a vida filmando casamentos. Em busca de redenção artística, ele aposta todas as fichas em refilmar o clássico "Anaconda". Seu amigo de infância, o ator de currículo pífio Griffin, é interpretado por Paul Rudd e tem a missão de convencê-lo a embarcar nessa aventura.
Atuações desequilibradas e o brilho do brasileiro
O filme, dirigido por Tom Gormican, assume contornos de comédia com Jack Black na liderança. Porém, a tentativa do ator de fazer humor se mostra descontrolada, repleta de caretas e reações exageradas que não conseguem arrancar risos genuínos. Paul Rudd também não vai muito além, apresentando uma atuação fraca como um galã inseguro. Situação ainda pior é a de Steve Zahn, completamente apagado no papel de um cinegrafista decadente.
É no meio desse cenário que surge o personagem mais interessante da trama: Santiago, um treinador de cobras brasileiro, interpretado por Selton Mello. Ele se junta à trupe quando o grupo decide viajar para o coração da Amazônia para as filmagens, levando consigo um grande pet assustador para o filme dentro do filme. Filosófico e apaixonado por serpentes, Santiago é, sem dúvida, a melhor criação do roteiro errático.
Enquanto o roteiro oscila entre tentativas de humor falhas e sequências constrangedoras, como a que transforma Doug em uma isca para cobras, Selton Mello consegue um registro de atuação contido e inteligente. Ele parece ser o único a entender que a premissa de pessoas fugindo de uma cobra do tamanho de um trem já é suficientemente exagerada, encontrando o tom correto para ser divertido. Sua performance é um respiro de qualidade no meio da atuação histérica de parte do elenco.
Outros destaques e o veredito final
Para não creditar todo o mérito ao ator brasileiro, é justo reconhecer o bom trabalho da portuguesa Daniela Melchior. Ela interpreta Ana, uma brasileira misteriosa que inventa mentiras para se juntar ao grupo e fugir de perseguidores armados. A atriz consegue brilhar em um filme que oferece pouco espaço para suas personagens femininas. Já Thandiwe Newton, ex-par de Tom Cruise em "Missão Impossível", tem papel limitado como a atriz do remake dentro da história.
Em um momento em que as comédias americanas parecem meros compilações de memes do TikTok, "Anaconda" de 2025 prometia mais. Em uma temporada de Natal com pouca concorrência além do novo "Avatar", o filme pode se tornar uma opção familiar e render boa bilheteria. No entanto, sob uma análise mais criteriosa, trata-se de uma comédia que não consegue ser engraçada.
Ainda assim, o saldo para Selton Mello é extremamente positivo. O ator se sai muito bem em sua primeira incursão em um filme americano de grande estúdio, mostrando que está no rumo certo para se tornar mais um orgulho brasileiro na terra do cinema. Sua atuação é o principal motivo para assistir a essa produção classificada para 12 anos.