As imagens que emergiram da maior operação policial já realizada no Rio de Janeiro em outubro de 2025 pareciam saídas de um cenário de guerra. O confronto, que envolveu 2.500 agentes nos complexos da Penha e do Alemão, serviu como um alerta dramático sobre o poderio alcançado pelo crime organizado no Brasil. A ação, destinada a cumprir mandados contra membros do Comando Vermelho, foi recebida com uma resposta militarizada dos criminosos, expondo uma crise de segurança que vai muito além das fronteiras do estado.
O poderio territorial e militar das facções
Durante a operação de 28 de outubro, os bandidos não recuaram. Eles enfrentaram as forças do Estado com rajadas de fuzis, granadas lançadas por drones e barricadas de carros incendiados. Em um ato de desafio extremo, sequestraram mais de setenta ônibus. O saldo da batalha foi trágico: 121 mortos, incluindo quatro policiais. Esse episódio singular, no entanto, é apenas a ponta do iceberg de um problema nacional.
Um levantamento do Datafolha revela a dimensão assustadora do controle territorial exercido pelo crime. Atualmente, 88 organizações criminosas dominam porções significativas do país. Elas impõem suas leis a aproximadamente 28,5 milhões de brasileiros, o que corresponde a 19% da população nacional. Esses cidadãos são obrigados a viver sob regras paralelas, marcadas pela violência e pela arbitrariedade.
A disputa pelo tráfico e a expansão para negócios lícitos
A expansão desse poder paralelo tem um motor principal: a disputa ferrenha entre as duas maiores facções do país, o Comando Vermelho (CV), do Rio, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. A briga é pelo controle das rotas do tráfico de drogas que ligam os países produtores da América do Sul aos grandes mercados consumidores da Europa e dos Estados Unidos.
Para consolidar o domínio, essas organizações não se limitam ao narcotráfico. Elas adotaram táticas antes associadas principalmente às milícias, invadindo a economia formal. Nos territórios que controlam, impõem monopólios sobre serviços como internet, TV a cabo e venda de combustível. Comércios locais e condomínios são coagidos a pagar "taxas de segurança" ou de "portaria", que alimentam diretamente o caixa das quadrilhas.
O esquema se tornou tão complexo que exigiu uma sofisticada engenharia financeira para lavagem de dinheiro. Investigações policiais já alcançaram empresas do mercado de capitais na renomada região da Faria Lima, em São Paulo, mostrando como o crime se infiltrou no coração do sistema financeiro.
Um alerta para o futuro: o risco do narcoestado
A megaoperação no Rio e outras similares pelo país deixaram uma lição clara e urgente. Especialistas e autoridades alertam que o Brasil corre um risco iminente de se transformar em um narcoestado, onde o poder paralelo do crime desafia e corrompe as instituições do Estado de forma sistêmica.
O ano de 2026 se aproxima como um marco decisivo. Os desafios para a segurança pública são enormes e exigem uma estratégia nacional unificada, que vá além das ações policiais repressivas. É necessário combater a lavagem de dinheiro, retomar o controle territorial e oferecer alternativas sociais e econômicas nas áreas dominadas pelo crime. Frear essa escalada é mais do que uma necessidade operacional; é uma questão de preservação da soberania e da democracia no Brasil.