Rio Acre transborda em dezembro após 50 anos e deixa mais de 400 desabrigados
Enchente atípica no Rio Acre desabriga mais de 400 pessoas

A cidade de Rio Branco, capital do Acre, enfrenta uma situação de emergência com a enchente atípica do Rio Acre no mês de dezembro. O transbordamento do manancial, que não ocorria neste mês há quase cinco décadas, já forçou mais de 400 pessoas a deixarem suas casas. A ausência de alertas oficiais nos celulares da população gerou uma onda de críticas nas redes sociais, levantando questionamentos sobre a eficácia do sistema de monitoramento.

Falha no sistema de alertas gera críticas

Um dos pontos centrais da crise é a falha no envio de notificações pelo sistema "Defesa Civil Alerta". De acordo com o tenente-coronel Claudio Falcão, coordenador do órgão na capital, o sistema ainda passa por testes e enfrenta limitações operacionais. Falcão explicou que a ferramenta não é automatizada e depende da atuação conjunta das defesas civis municipal, estadual e nacional.

"O sistema não é eletrônico, então, precisa de equipes exclusivas. Se nós formos fazer isso, nós deixamos de atender a população", afirmou o coordenador. Ele destacou que as equipes estão focadas em ações operacionais nos bairros e abrigos, o que, por vezes, compromete o monitoramento contínuo, especialmente em áreas de igarapés que não possuem sistemas eletrônicos.

Números da crise e abrigos montados

Os dados oficiais da prefeitura e do governo estadual são alarmantes. Até esta terça-feira (29), 411 pessoas foram desabrigadas e estão instaladas em sete abrigos, montados em escolas e centros de cultura. O nível do Rio Acre atingiu a marca de 15,37 metros às 12h, ultrapassando em mais de um metro a cota de alerta máximo, que é de 14 metros.

Das aproximadamente 230 regiões administrativas da capital, 43 bairros foram diretamente afetados por inundação ou enxurrada. As equipes de resposta atuam, neste momento, em 19 dessas localidades. O transbordo começou na manhã de sábado (27), apenas um dia após o rio atingir a cota de atenção, de 10 metros.

Preocupação com pânico e credibilidade

O comandante da Defesa Civil local também expressou preocupação com o possível pânico que um alerta indiscriminado poderia causar. "Se nós emitirmos um alerta sem controle, vai tocar nos 230 bairros e vai trazer pânico para a população. Além do mais, nós podemos perder credibilidade. Isso não pode acontecer", comentou Falcão.

Apesar das justificativas, ele reconheceu a extrema importância do sistema de alertas e defendeu uma maior integração entre os entes federativos para que a ferramenta funcione de forma plena e eficaz, garantindo a segurança da comunidade.

Cheia histórica e causas do transbordo

Este evento é considerado histórico, pois desde 1975 o Rio Acre não transbordava no mês de dezembro na capital acreana. Esta é a segunda vez em menos de um ano que o rio ultrapassa a cota de transbordo, após um episódio similar registrado em março.

Segundo a Defesa Civil estadual, a elevação repentina do nível das águas está diretamente relacionada ao intenso volume de chuvas registrado na capital entre quinta (25) e sexta-feira (26). Outro fator agravante é a situação do Riozinho do Rola, um afluente do Rio Acre, que também apresenta níveis elevados, contribuindo para o transbordamento do manancial principal.

A crise expõe a vulnerabilidade da cidade a eventos climáticos extremos e a necessidade urgente de aprimorar os sistemas de prevenção e alerta para proteger a população de futuras tragédias.