O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou, nesta terça-feira (30), a conclusão de sua investigação sobre o trágico acidente aéreo que ocorreu em novembro de 2021, nas proximidades de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. O relatório final aponta o esgotamento de combustível (pane seca) como a causa mais provável da queda do avião bimotor Piper PA-34-220T, prefixo PP-WRS, que resultou na morte do piloto e no desaparecimento de outras duas pessoas.
Sequência de falhas no planejamento e operação
O documento técnico detalha uma cadeia de erros que culminaram na tragédia. A aeronave decolou de Campinas (SP) na noite de 24 de novembro de 2021, às 23h22 (UTC), com destino ao Aeroporto de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Durante o voo, o piloto reportou a falha de ambos os motores, e a aeronave caiu no mar aberto entre Ubatuba e Paraty.
Segundo o Cenipa, o piloto declarou uma autonomia de 3 horas e 30 minutos, mas não realizou o reabastecimento em Campinas, mesmo com o serviço disponível. O planejamento da viagem não considerou a reserva mínima de 45 minutos de combustível, exigida por regulamento. Além disso, a investigação identificou o uso inadequado do comando de mistura de combustível. Relatos indicam que o piloto manteve o manete na posição "rica" durante todo o voo, o que aumenta significativamente o consumo.
Com base nessa configuração, os investigadores calcularam que a autonomia real da aeronave naquela noite era de apenas 2 horas e 35 minutos, tempo quase idêntico à duração total do voo, levando inevitavelmente à pane seca.
Fatores humanos e técnicos agravantes
O relatório também destacou fatores relacionados à experiência do piloto. Embora possuísse as licenças necessárias, ele não tinha experiência recente em voos noturnos – não cumpria o mínimo de três decolagens e pousos nos últimos 90 dias – e possuía poucas horas de voo no modelo Sêneca. Era a primeira vez que realizava a rota entre Campinas e o Rio de Janeiro.
Após a parada dos motores, a aeronave perdeu o sistema de vácuo, que alimenta instrumentos essenciais como o horizonte artificial. Na escuridão do mar, o piloto provavelmente enfrentou desorientação espacial, colidindo contra a água em alta velocidade e com uma atitude anormal.
Um detalhe técnico curioso foi encontrado na asa resgatada: uma mangueira e uma braçadeira de uso comum, não aeronáutico, instaladas no sistema de ventilação do tanque de combustível. A investigação não atribuiu a causa do acidente a esse item, mas o registrou como uma irregularidade.
Buscas e desaparecimentos
O acidente mobilizou uma grande operação de busca. O corpo do piloto, Gustavo Carneiro, foi encontrado no dia seguinte ao desaparecimento. No entanto, o copiloto José Porfírio de Brito Junior e o passageiro Sérgio Alves Dia Filho nunca foram localizados, assim como a fuselagem principal da aeronave.
As buscas, que contaram com a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira (FAB), foram encerradas em 6 de dezembro de 2021, após a área do acidente ser completamente varrida. O caso ganhou grande repercussão nas redes sociais, com amigos das vítimas e celebridades como Pedro Scooby, Tatá Werneck e Rubens Barrichello cobrando empenho das autoridades.
A FAB afirmou que as operações seguiram padrões internacionais e que poderão ser retomadas caso surjam novas informações sobre a localização dos desaparecidos, o que não aconteceu até o momento.