Um jovem de 21 anos passou por uma provação de 12 dias na densa mata da Serra do Japi, em Cabreúva, no interior de São Paulo. Davi Marcos Amancio Toledo desapareceu no dia 11 de dezembro e só foi localizado em 23 de dezembro, após um extenso trabalho de buscas que mobilizou familiares, amigos e equipes de resgate.
O resgate e o estado de saúde do jovem
O encontro com Davi ocorreu por volta das 15h30 da terça-feira, dia 23. Ele chegou até a casa de um morador da região da Fazenda Guaxinduva e pediu água. O morador reconheceu o jovem, que estava desaparecido, e acionou imediatamente a central de monitoramento.
"Ao chegar lá, verificamos que ele estava bem magro, devido à quantidade de dias que ficou na mata, e com alguns ferimentos na perna", relatou o secretário adjunto de segurança e Defesa Civil de Cabreúva, Fábio Luiz Fiori.
A mãe do rapaz, Laís Toledo, descreveu o estado do filho ao ser encontrado: debilitado, desnutrido e extremamente cansado. Davi foi levado para a UPA do Jacaré e recebeu alta médica na quarta-feira, dia 24 de dezembro.
Os perigos da Serra do Japi: onças, cobras e insetos
A área onde Davi ficou desaparecido é conhecida por sua beleza natural, mas também por seus riscos. A Serra do Japi possui aproximadamente 350 km² de extensão, sendo um remanescente do bioma da Mata Atlântica visível de Jundiaí e que também abrange partes de Cabreúva, Cajamar e Pirapora do Bom Jesus.
A médica veterinária Cristina Harumi Adania, da ONG Mata Ciliar, detalha os desafios do local. "A Serra do Japi é toda íngreme. Ela tem várias descidas, subidas, a pessoa pode cair, ela não é uma mata no nível, é cheia de pedras escorregadias", explica.
O maior perigo, segundo ela, é a falta de experiência em se locomover na mata. "A pessoa que não sabe andar fica pondo a mão em tudo quanto é lugar... e aí tem taturanas que queimam, você pode pegar uma aranha... pode pisar em cobras", alerta. Ela destaca a presença de serpentes como jararaca e cascavel na região.
Acidentes com insetos, como abelhas e vespas, também são comuns. Quanto aos animais de grande porte, como a onça-parda — flagrada por câmeras de monitoramento —, a especialista afirma que eles tendem a fugir ao perceber a presença humana. "Eles não enfrentam", comenta.
Dicas de sobrevivência para quem se perde na mata
Cristina Adania também oferece conselhos valiosos para quem eventualmente se perder em uma área como a Serra do Japi. A orientação principal é observar a posição do sol para se orientar durante o dia.
"A primeira coisa quando você vai entrar numa mata é ver a posição do sol. É isso que a gente procura saber ou seguir um rio", afirma. A serra é rica em nascentes, córregos e riachos, o que pode ajudar na localização.
"Acho muito difícil a pessoa se perder durante o dia. À noite, ela vai ficar parada e tentar abrigo, mas, durante o dia, ela deve encontrar saída, sim. É só tentar olhar e ver a posição do sol, e seguir sempre um caminho", completa a veterinária.
O desaparecimento de Davi teve início quando ele saiu de casa por volta das 13h do dia 11 de dezembro, uma quinta-feira. O boletim de ocorrência foi registrado apenas na segunda-feira, dia 15, dando início às buscas oficiais. A história teve um final feliz, mas serve como um alerta sobre os perigos e a necessidade de preparo ao adentrar áreas de preservação ambiental complexas como a Serra do Japi.