O cirurgião bariátrico e pesquisador Cid Pitombo utiliza o sucesso do filme brasileiro "Tudo bem no Natal que vem" para promover uma reflexão profunda sobre a obesidade, os hábitos de vida e os desafios do tratamento. A análise ganha um tom pessoal, já que o protagonista da trama, o ator Leandro Hassum, é seu paciente e amigo.
A metáfora do "efeito sanfona" no cinema
Lançado em dezembro de 2025, o longa estrelado por Hassum apresenta uma narrativa que serve como poderosa analogia para a luta contra a obesidade. Na comédia, o personagem vive um ciclo repetitivo onde acorda no mesmo Natal, forçado a enfrentar as consequências de seus erros passados. Para Pitombo, essa premissa espelha a frustração vivida por muitas pessoas com a doença: as tentativas frustradas de dieta, o uso de medicamentos e o desespero de acordar e se ver ainda preso ao mesmo corpo.
O médico enfatiza que a obesidade é uma condição crônica, sem culpados individuais. Suas raízes estão em falhas metabólicas, genéticas e fisiológicas complexas que resultam em um ganho de peso desproporcional e na enorme dificuldade de perdê-lo. "Quanto maior o tempo de obesidade, maior a dificuldade na perda de peso", explica. Órgãos como o hipotálamo podem "cansar", reduzindo a resposta a medicamentos e até às mudanças hormonais provocadas pela cirurgia bariátrica.
Os complexos mecanismos do corpo e a genética
Pitombo desmistifica a ideia simplista de que o peso é um mero resultado direto do que se come ou do quanto se exercita. Ele argumenta que, se fosse assim, um ultramaratonista se tornaria extremamente magro ao final de uma prova, o que não acontece devido aos rigorosos controles do organismo sobre o que é perdido e onde a gordura é acumulada.
A genética desempenha um papel crucial nesse processo. Algumas pessoas têm tendência a acumular gordura visceral, dentro do abdômen, o que eleva significativamente o risco de doenças cardiovasculares, hepáticas e diabetes. Outras acumulam gordura em regiões como o quadril, o que tende a ser menos agressivo ao metabolismo. Essa variação individual demonstra que as soluções não podem ser únicas ou padronizadas.
A mudança permanente é a chave
O artigo alerta que mesmo pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, como foi o caso de Leandro Hassum, não estão imunes a recaídas. "Se não souberem o que comer nas suas ceias, podem acordar um dia com o corpo do Natal passado", adverte Pitombo. A reversão do "feitiço" da obesidade exige uma transformação real e duradoura, seja através da cirurgia ou dos novos e eficientes tratamentos clínicos disponíveis.
Assim como na trama do filme, onde o personagem reaprende a cuidar de si, valorizar a família e mudar hábitos, a vida real demanda constância. A mensagem final do pesquisador é clara: o filme, feito por um ex-portador de obesidade mórbida, é um presente por nos fazer refletir sobre a adoção de bons hábitos. Na vida real, diferente da ficção, não temos a chance de voltar no tempo para corrigir erros. O tempo segue em frente, e cada escolha alimentar e de estilo de vida deixa sua marca, seja na memória ou no próprio corpo.
A reflexão do Dr. Cid Pitombo, publicada em 29 de dezembro de 2025, serve como um alerta e um convite ao autocuidado, especialmente em épocas festivas, reforçando que a manutenção da saúde é um compromisso contínuo.