O verão brasileiro, com suas altas temperaturas características, representa um período de alerta máximo para a saúde do coração. Além dos fatores de risco tradicionais, como hipertensão e colesterol alto, a exposição ao calor excessivo se mostra um agravante significativo para eventos cardiovasculares potencialmente fatais.
Como o calor extremo ataca o sistema cardiovascular
A relação entre termômetros elevados e problemas no coração é comprovada por diversos estudos. O médico Marcelo Franken, diretor da SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), explica que os mecanismos são múltiplos e perigosos. O calor provoca desidratação, que reduz o volume de plasma no sangue, deixando-o mais espesso e aumentando a tendência à formação de coágulos. Isso eleva o risco de infartos e Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC).
Paralelamente, na tentativa de resfriar o corpo, o coração é forçado a bater mais rápido, aumentando seu esforço. A vasodilatação e a transpiração, mecanismos ativados pelo hipotálamo para controle da temperatura, podem causar queda da pressão arterial. Para compensar, o sistema nervoso simpático acelera os batimentos cardíacos, criando um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio para o músculo cardíaco.
Idosos, gestantes e pessoas com doenças pré-existentes, como insuficiência cardíaca, são os grupos mais vulneráveis a esse estresse térmico e hemodinâmico. Alterações nos eletrólitos do sangue também podem desencadear arritmias graves.
Números alarmantes: a mortalidade cresce com a temperatura
As estatísticas reforçam a gravidade da situação. Uma revisão de centenas de estudos indica que, a cada 1°C a mais na temperatura, a taxa de mortalidade por causas cardiovasculares aumenta 2,1%. Durante ondas de calor prolongadas, esse índice pode saltar para 12%.
Um relatório da Federação Mundial do Coração (WHF) atribui de 2 a 3% das mortes por ataque cardíaco à combinação de altas temperaturas com poluição do ar. Dados concretos do estado de São Paulo ilustram o problema: nos primeiros sete meses de 2023, mais quentes que o ano anterior, a Secretaria de Estado da Saúde registrou um aumento de 102,5% nos atendimentos e internações por diagnósticos relacionados ao calor.
Uma pesquisa publicada no jornal do Colégio Americano de Cardiologia (ACC), que analisou 2,4 milhões de mortes na China entre 2013 e 2019, trouxe outro dado crucial. Quando as temperaturas permanecem altas tanto de dia quanto à noite, a probabilidade de morte cardiovascular quase dobra. Se o calor intenso ocorre apenas em um dos períodos (dia ou noite), o risco ainda assim sobe entre 16% e 19%.
Medidas essenciais para se proteger no verão
Diante do aumento global das temperaturas e da maior frequência de ondas de calor, a adoção de medidas preventivas é fundamental. Confira as principais recomendações dos especialistas:
Hidratação é prioridade: Beba água regularmente. Evite bebidas alcoólicas e com cafeína, que favorecem a desidratação.
Fuja do sol nos horários de pico: Reduza a exposição direta ao sol entre 10h e 16h. Prefira ambientes arejados, ventilados ou climatizados.
Vista-se com inteligência: Use roupas leves, de cores claras e feitas com tecidos naturais, como algodão, que facilitam a transpiração.
Alimentação leve: Opte por refeições menos calóricas, com menos sal, gordura e de fácil digestão. Frutas, legumes e saladas são ótimas escolhas.
Exercícios nos horários certos: Mantenha a atividade física, mas prefira os períodos mais frescos do dia, como antes das 10h ou após as 16h.
Cuidado redobrado: Nunca deixe crianças, idosos ou animais de estimação dentro de veículos estacionados, mesmo por poucos minutos.
Controle os fatores de risco: Consultas periódicas ao cardiologista e o controle rigoroso de pressão arterial, diabetes e colesterol são indispensáveis. Qualquer sinal de irregularidade deve levar à busca imediata por ajuda médica.
O verão pode e deve ser uma estação de alegria e diversão. Com atenção e cuidados simples, é possível aproveitar os dias ensolarados com muita saúde e segurança para o coração.
